Muitos pais podem recear que os seus filhos entrem na universidade e “se especializem” em drogas, mas a partir de 2025 isso poderá ser uma possibilidade real — pelo menos no sentido académico. O Instituto Californiano de Estudos Integrais (CIIS), em São Francisco, irá oferecer a primeira licenciatura em Ciências com foco em estudos psicadélicos.
De acordo com Nick Walker, professor de psicologia do CIIS e co-criador do programa, o curso inclui disciplinas que abrangem psicologia, antropologia cultural e neurociência.
A procura por formação em terapia psicadélica tem aumentado significativamente, à medida que especialistas preveem que o mercado destas substâncias possa atingir os 4,6 mil milhões de dólares até 2030. Este curso surge como resposta a essa necessidade, sendo o primeiro nos Estados Unidos a permitir que estudantes de licenciatura se dediquem ao tema.
Fundado em 1968, o CIIS começou como um espaço dedicado a pensadores transcendentalistas e influenciado por misticismo oriental. Desde então, evoluiu para uma universidade credenciada, com ênfase em psicologia, filosofia e estudos de consciência. Entre os seus programas incluem-se mestrados em liderança transformacional e psicologia somática.
O novo curso, apresentado numa discussão pública no dia 24 de novembro, terá uma abordagem interdisciplinar. Apesar de o currículo ainda estar em desenvolvimento, Walker afirma que incluirá experiências imersivas em estados alterados de consciência e exercícios de simulação terapêutica. O programa, contudo, não envolverá o uso de drogas nem servirá como formação profissional direta. Para se tornarem terapeutas psicadélicos, os alunos terão de prosseguir para estudos de pós-graduação e obter licenças profissionais.
“Queremos garantir que os nossos graduados saiam daqui com um entendimento profundo, humildade cultural, pensamento crítico e integridade ética,” sublinhou Walker.
Além da licenciatura, o CIIS abrirá, em 2025, uma clínica de formação em terapia assistida por ketamina, destinada a alunos pós-graduados licenciados. Segundo Walker, a prioridade da instituição é manter padrões rigorosos de segurança e ética, num campo frequentemente descrito como o “Velho Oeste” da saúde mental.
Embora o curso seja visto com curiosidade por muitos, ele também levanta preocupações. A sua introdução promete acender debates sobre os limites entre ciência, ética e as possibilidades terapêuticas das substâncias psicadélicas.