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Timothy Leary

Timothy Leary (1920-1992) teve uma vida intensa, cheia de aventuras e de dificuldades. Leary tornou-se uma figura famosa na contracultura da década de 1960 quando defendeu a exploração do mundo interior e questionou a autoridade vigente. Mais tarde, a sociedade dominante acabou por considerá-lo como um marginal e um cientista desonrado. Timothy Leary serviu no Exércdito entre 1943 e 1946 e trabalhou na área da psicologia, defendendo o seu doutoramento em 1950 na universidade de Berkeley. Desenvolveu um programa clínico em psicologia no Hospital Kaiser em Oakland e praticou psicoterapia. A sua investigação sobre diagnóstico da personalidade garantiu-lhe, em 1959, uma posição como professor de psicologia clínica em Harvard, no centro de investigação sobre a personalidade. No verão de 1960, um professor de psicologia que ele já conhecia de Berkeley, Frank Barron, convenceu-o a experimentar cogumelos psicadélicos no México. Leary descreveu como “a experiência religiosa mais profunda da minha vida”. O psicólogo viu que sua realidade aparentava ser uma invenção e passou a acreditar que os psicadélicos seriam uma das descobertas mais importantes do século.

Timothy Leary liderou investigações sobre os efeitos da psilocibina e do LSD, e supervisionou o Harvard Psilocybin Project. Cerca de 2000 pessoas receberam psilocibina e foram depois observadas para ver como isso as afetava. Investigou também os efeitos da psilocibina em prisioneiros e em 1962 participou na organizou uma experiência que ficaria conhecida como a Good Friday Experiment, que envolvia estudantes de um seminário religioso. A sua investigação mostrou que a psilocibina é eficaz na criação de uma experiência religiosa autêntica e ajudou a desenvolver a consciência da importância da preparação, da expectativa e do contexto. Timothy Leary inspirou muitas pessoas a experimentarem substâncias psicadélicas, mas foi criticado por se afastar do papel de terapeuta. Leary queria reduzir o impacto da expectativa para deixar que o processo de exploração interna se manifestasse a partir do inconsciente.

Primeiro número da revista científica Psychedelic Review, fundada por Timothy Leary, Richard Alpert e Ralph Metzner

Albert Hofmann escreveu que ficou supreso quando em janeiro de 1963 Timothy Leary encomendou da farmacêutica Sandoz um milhão de doses de LSD e 2,5 milhões de doses de psilocibina. A empresa insistiu em ter uma licença de importação, e ao inquirir o reitor da universade, acabou por descobriu que a investigação de Leary já não estaria aprovada. Pouco depois, o investigador foi demitido da faculdade de Harvard. Hofmann considerou Leary charmoso, bem-humorado e autodepreciativo, mas com tendencia para encobrir os perigos do uso generalizado de psicadélicos pelas novas gerações.

Timothy Leary continuou a trabalhar com psilocibina em Millbrook, uma propriedade disponibilizada que lhe foi disponibilida e também para os seus colegas, Richard Alpert e Ralph Metzner. Neste periodo realizaram retiros e publicaram a revista Psychedelic Review e um livro, The Psychedelic Experience. O psicólogo fundou também a International Foundation for Internal Freedom e a League for Spiritual Discovery. A experiência psicadélica, escreveu Leary, “liberta o sistema nervoso dos seus padrões típicos” e produz estados de “transe, um caos delicioso, expansão da consciência, uma iluminação espiritual, uma empatia poderosa e mística com as forças naturais”. Timothy Leary argumentava que a divindade está dentro de nós. Foi um forte defensor da autonomia, e não se servia da sua influência para controlar os outros, opondo-se também a estruturas autoritárias.

O famoso conselho do Timothy Leary, Turn on, Tune in, and Drop out, surgiu de uma conversa com o Marshall McLuhan, sendo que o proferiu em público pela primeira vez no seu discurso no Human Be-In no parque Golden Gate em janeiro de 1967. “Desistir”, escreveu Leary, com o objetivo de “se desligar com ternura, estética e harmonia do estúdio de adereços falso do jogo do império e não fazer mais nada para além de proteger e glorificar a luz”.

Os psicadélicos tornaram-se ilegais em todo o país em outubro de 1968. Timothy Leary concorreu ao governo da Califórnia nesse ano, e John Lennon escreveu “Come Together” para a sua campanha politica, e que passaria a ser o seu slogan de campanha. O psicólogo acabou acusado de ser um porta-voz da revolução psicadélica, e a Califórnia e o governo federal processaram-no por posse de marijuana. Leary escapou da prisão e viveu como fugitivo e exilado antes de cumprir três anos de prisão de 1973 a 1976.

Timothy Leary escreveu mais de vinte livros e tinha importantes amizades com filósofos e celebridades; casou-se cinco vezes e criou três filhos. Na década de 80, Leary ficou entusiasmado com o potencial da comunicação cibernética, extensão da vida e da inteligência, e a colonização espacial. O investigador colaborou com Robert Anton Wilson para discutir a relação cósmica entre o sistema nervoso humano e o espaço interestelar. Enquanto algumas pessoas se ressentem pelo seu descuido na gestão da opinão pública, levando a uma oposição à investigação com psicadélicos, muitas pessoas amavam-no e apreciavam os seus esforços para incentivar a exploração do mundo interior. Segundo Leary, devemos encontrar um sacramento que nos leve de volta ao templo de do nosso próprio corpo e renascer, voltar para expressá-lo, e iniciar uma nova sequência de comportamentos que reflitam essa sua visão. Quando questionado sobre qual a imagem dele que estava correta, um showman ou um explorador, Leary respondeu com um brilho nos olhos: “tu tens o Timothy Leary que mereces ter”.

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