Testemunhos
#ayahuasca

Maria

38 anos – Freelancer

Quando ouvi falar de Ayahuasca pela primeira vez tinha 23 anos. Foi através de um amigo que, durante um jantar, partilhou a sua experiência e este nome nunca mais me saiu da cabeça. Foram 10 anos a querer e a não ter coragem de o fazer. Achava que não era capaz de enfrentar os meus medos e as minhas emoções até que um dia, muitos anos mais tarde, surgiu a oportunidade de o fazer e não hesitei.

Foram-me pedidas informações sobre o meu estado de saúde e porque não tinha nenhuma condição física ou psicológica que me impedisse de o fazer, marquei o dia.

Pedi um livro emprestado, chamado “Sacred Knowledge, Psychedelics and Religious Experiences” que me ensinou tanto quanto um livro pode ensinar sobre estas experiências difíceis de pôr em palavras e iniciei a minha dieta. O período de preparação, a dieta e a descoberta da minha intenção para a cerimónia foram uma parte importante deste processo.

Não acredito que me vá esquecer deste dia. Foi uma viagem muito completa, foi alegria e tristeza, luz e sombra, foi bonita e arrebatadora. Fui transportada para este universo infinito e vi o quão pequena sou no meio de tudo isto e ao mesmo tempo o quão importante. Vi como cada um de nós é precioso neste todo. Que somos todos parte da natureza porque nós somos a natureza. Mostrou-me que somos feitos de amor, e que nos esquecemos disso e que devemos tratar o próximo com muito mais carinho e respeito, porque o outro também somos nós.

No meio desta viagem pelo universo, de repente, ouvi uma voz dentro de mim a perguntar-me: estás preparada, posso te mostrar o que queres saber? 

E eu concordei com o meu coração e fui levada para o momento em que me materializei nesta vida. Vi o milésimo de segundo em que o amor dos meus pais fez com que eu aparecesse nesta terra e percebi de onde vim.

Experienciei esse momento lá (nesse tempo há 38 anos atrás) e ao mesmo tempo de fora como se estivesse a ver o filme da minha vida – foi arrebatador. Chorei de gratidão pura pelo milagre que é esta vida e agradeci muito aos meus pais a minha vinda a esta terra.

No meio deste choro, fui raptada para uns momentos muito tristes pelos quais passei e as lágrimas agora eram de dor e de uma tristeza tão profunda. Senti-me tão sozinha. Fui confrontada com a tristeza que eu escondia, vi que o meu coração ainda estava partido, por mais que eu quisesse acreditar que não, e aprendi que as pessoas importantes na nossa vida ficam nela para sempre, física e espiritualmente e isso deu-me um conforto tão grande, que consegui voltar a respirar.

A Madrecita deu-me colo e muito amor. Tanto que não cabia em mim, que transbordava para todo este universo e me fez começar a sorrir. Tive visões de vários momentos da minha vida e senti uma gratidão profunda por cada um deles, os bons e os maus, porque sei que foi cada um deles que me tornou na pessoa que sou hoje. 

Viajei pelas minhas preocupações e apercebi-me que tenho e terei sempre à minha volta pessoas incríveis que me vão acompanhar e apoiar, vi a rede que me conecta a cada uma destas pessoas e senti uma paz tão grande dentro de mim.

A música foi sempre um guia nos momentos mais difíceis e respirar foi essencial nesta viagem que me pareceu eterna. 

Quando a cerimónia terminou, ainda me sentia um pouco mareada e sem forças mas fiquei a descansar um pouco no meu lugar, e mais tarde fui para o quarto dormir para recuperar forças.

No dia seguinte senti-me leve, mas ainda a tentar processar tudo por que tinha passado. 

Voltar ao mundo real foi difícil, entrar na rotina e tentar integrar toda a aprendizagem foi um processo longo pois não tive acompanhamento, a não ser o apoio dos meus amigos. Hoje sei o quão importante é a fase de integração.

Estou profundamente grata por esta medicina, pela calma que me trouxe, pelo peso que senti cair dos meus ombros e pela leveza e alegria que trouxe à minha vida desde este primeiro encontro.

Hoje, e depois de mais encontros com a madre ayahuasca, consegui aprender a valorizar o tempo que passo sozinha, a confiar que os momentos mais difíceis da vida nos trazem boas aprendizagens e a confiar mais em mim e nas minhas capacidades. Consegui encontrar quase sempre na planta, um guia sábio e carinhoso. Com sentido de humor e com uma mão firme. Que me levou onde precisava de ir, mais do que onde eu queria ir.

Sinto que a experiência me transformou numa pessoa melhor, de coração aberto para a vida, mais preocupada com o planeta e em cuidar dele, e mais empática com as pessoas que se cruzam no meu caminho. Comecei a ter mais cuidado com a alimentação, comecei a praticar yoga e notei um aumento na criatividade. Tenho uma relação muito mais honesta com a minha família e sou mais “eu” do que nunca, sem me julgar ou criticar constantemente. Tenho dias menos bons, mas sinto que a planta me lembra sempre das viagens que fiz com ela e acende a minha luz interior para que não me esqueça que ela está sempre aqui.

Obrigada madre ayahuasca por todos os ensinamentos, obrigada a quem me guiou porque foi sempre tão importante saber que estava em boas mãos e num ambiente seguro, e obrigada a todos com quem me cruzei nestas viagens cósmicas. Aho ❤️

Nota: Alguns nomes nos testemunhos foram alterados para assegurar o anonimato.