Ciência

Os Psicadélicos no Contexto da Saúde Pública: Uma Declaração de Princípio

A Associação Canadiana de Saúde Pública emitiu um position statement (declaração de princípio) no contexto da crescente investigação e comercialização dos psicadélicos. A Associação refere que a sua utilização está a avançar mais rapidamente do que a produção de evidência científica rigorosa sobre a sua eficácia terapêutica. Paralelamente, referem que há riscos de apropriação indevida do conhecimento indígena e a necessidade de garantir que populações estruturalmente desfavorecidas sejam incluídas nos protocolos de investigação e tratamento. A associação defende assim que a regulação dos psicadélicos deve basear-se numa abordagem de saúde pública que equilibre segurança, acessibilidade e diversidade de utilizadores.

A Necessidade de uma Abordagem de Saúde Pública

O interesse público e o investimento comercial em psicadélicos têm crescido exponencialmente, superando o estado atual da investigação científica. A expansão do uso terapêutico e recreativo levanta questões sobre os seus efeitos e implicações éticas. Vários países estão a explorar modelos de descriminalização ou legalização, enquanto agentes comerciais e ativistas procuram influenciar as políticas e regulamentações.

Do ponto de vista da saúde pública, os psicadélicos podem beneficiar populações subatendidas por abordagens convencionais de saúde mental. No entanto, para que isso se concretize, a investigação deve considerar a equidade no acesso. Além disso, a crescente popularidade dos psicadélicos exige estratégias eficazes de redução de danos e educação pública, para evitar que interesses comerciais predominem sobre a saúde populacional.

Propostas de Regulação

Uma abordagem de regulação eficaz deve:

  • Reconhecer diferentes padrões de uso, desde o ocasional e seguro até ao problemático.
  • Assegurar um fornecimento legal e regulamentado para usos terapêuticos e não problemáticos.
  • Restringir a promoção comercial e desenvolver campanhas educativas sobre riscos e benefícios.
  • Criar regulamentação diferenciada para usos médicos, espirituais e recreativos.
  • Definir medidas de acesso supervisionado e estratégias de redução de riscos para o uso não supervisionado.
  • Garantir equidade na saúde e fortalecer a investigação e monitorização da utilização dos psicadélicos.

Atualmente, ainda não existe consenso científico suficiente sobre a relação entre riscos e benefícios para fundamentar estas decisões. No entanto, vários especialistas já propõem modelos regulatórios para o uso terapêutico e recreativo, com diferentes graus de supervisão.

O crescente interesse popular nos psicadélicos expõe uma lacuna de informação que está a ser preenchida por interesses comerciais. A comunidade de saúde pública deve priorizar a investigação sobre o uso não clínico, incluindo:

  • Perfis dos utilizadores e contextos de consumo.
  • Benefícios e riscos a curto e longo prazo.
  • Segurança das substâncias, incluindo a prevenção de intoxicações.
  • Protocolos utilizados por comunidades indígenas e grupos religiosos.

Além da investigação, é fundamental implementar estratégias de redução de riscos, como diretrizes para uso seguro e programas de certificação para supervisores de experiências psicadélicas. Devem também ser desenvolvidas campanhas de consciencialização para combater a desinformação e garantir que a informação prestada ao público é baseada em evidências científicas.

Questões-Chave para o Futuro

  1. Como garantir que a investigação sobre psicadélicos é rigorosa e imparcial?
  2. Que modelo regulatório equilibra segurança e acessibilidade?
  3. Como tornar a investigação e o tratamento mais inclusivos?
  4. Que estratégias de redução de danos são mais eficazes para o uso não clínico?
  5. Como respeitar e proteger o conhecimento indígena sobre psicadélicos?
  6. Como evitar que os interesses comerciais sobreponham a saúde pública?
  7. Que sistemas de monitorização devem ser implementados para acompanhar tendências e impactos do uso de psicadélicos?

Conclusão

O campo dos psicadélicos está a evoluir rapidamente e apresenta desafios complexos. Embora ofereçam benefícios terapêuticos promissores, é essencial uma abordagem equilibrada que priorize a saúde pública, a equidade e o respeito pelo conhecimento tradicional. Uma regulação baseada em evidências pode garantir que o potencial dos psicadélicos seja explorado de forma segura e ética.

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