O uso de substâncias psicadélicas tem vindo a aumentar, impulsionado pela crescente divulgação de evidência científica e pela maior presença do tema nos meios de comunicação social. Paralelamente, os potenciais efeitos adversos associados a estas experiências têm recebido atenção crescente por parte da comunidade científica e dos profissionais de saúde.
Os efeitos adversos de uma experiência psicadélica podem manifestar-se de forma aguda ou prolongar-se no tempo, podendo ser de natureza física (por exemplo, náuseas ou vómitos) ou psicológica (como ansiedade, confusão ou medo). Tendo em conta que o acesso a contextos regulados, como a psicoterapia assistida por psicadélicos, continua a enfrentar barreiras legais e financeiras, a maioria das experiências ocorre fora destes enquadramentos formais. Este facto pode aumentar a probabilidade de ocorrência de efeitos adversos, sobretudo quando não existem condições adequadas de preparação, acompanhamento e integração.
Neste contexto, torna-se essencial implementar estratégias que, reconhecendo a autonomia e a capacidade de escolha das pessoas que utilizam substâncias, contribuam para a mitigação dos riscos associados. No caso específico dos psicadélicos, e considerando que os potenciais benefícios da sua utilização podem ser favoráveis quando comparados com os riscos – especialmente em comparação com outras substâncias psicoativas – poderá ser particularmente relevante adotar uma abordagem que vá além da redução de riscos, integrando também a maximização de benefícios.
Com o objetivo de reunir e divulgar informação baseada em práticas informadas, um estudo recente inquiriu uma amostra de 581 utilizadores experientes e profissionais (incluindo terapeutas e investigadores), recolhendo recomendações dirigidas a pessoas que pretendem ter uma primeira experiência com psicadélicos. As recomendações mais frequentes foram as seguintes:
- Escolha da substância: as substâncias mais frequentemente recomendadas para uma primeira experiência foram cogumelos ou trufas com psilocibina, seguidas de cannabis e MDMA. Em contraste, as substâncias menos recomendadas incluíram ayahuasca, DMT, 5-MeO-DMT e sálvia. Foi igualmente salientada a importância de começar com doses baixas, conhecer a origem da substância e, sempre que possível, testá-la.
- Combinação de substâncias psicadélicas: a maioria dos participantes não recomendou a combinação de mais do que uma substância psicadélica numa primeira experiência. Quando mencionadas, as combinações mais frequentemente referidas foram psilocibina com cannabis, psilocibina com MDMA e LSD com MDMA.
- Combinação com outras substâncias: as recomendações apontaram maioritariamente para evitar a combinação com álcool, estimulantes, antidepressivos e narcóticos/opioides.
- Preparação psicológica: foi destacada a importância de uma preparação adequada, incluindo abertura à experiência, aquisição de informação sobre a substância e os seus efeitos, e a definição de uma intenção para a experiência.
- Preparação do contexto (setting): assegurar um ambiente seguro, confortável e familiar, bem como a presença de pessoas de confiança e, idealmente, de alguém com experiência (por exemplo, um sitter). Outros elementos frequentemente referidos incluíram música, hidratação adequada e a utilização de um caderno para anotações.
- Cuidados com a alimentação: recomendações como optar por uma alimentação saudável nos dias anteriores, evitar refeições pesadas antes da experiência e não consumir álcool.
- Preparação para emergências: estar preparado para lidar com situações inesperadas, incluindo informar previamente alguém de confiança sobre a experiência e procurar ajuda sempre que necessário.
Esta informação pretende contribuir para decisões mais informadas e experiências potencialmente mais seguras e positivas, reforçando a importância de abordagens baseadas na redução de riscos e na maximização de benefícios. Neste artigo SafeJourney podem ser consultadas mais informações sobre boas práticas, redução de riscos e maximização de benefícios.
