A organização sem fins lucrativos The War Horse, dedicada à cobertura jornalística do impacto humano do serviço militar, publicou uma peça onde entrevista três veteranos de guerra que recorrem aos psicadélicos para tratar os sintomas físicos e psicológicos decorrentes das suas experiências em contexto de combate.
Os veteranos de guerra têm sido um dos principais grupos-alvo da investigação em terapia-assistida por psicadélicos, dadas as elevadas taxas de perturbação de stress pós-traumático (PTSD), lesões cerebrais traumáticas, depressão e ansiedade, bem como a limitada eficácia dos tratamentos convencionais. Só nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 17 veteranos morram por suicídio todos os dias.
Face à falta de respostas adequadas, muitos veteranos acabam por recorrer por iniciativa própria ao uso de psicadélicos para gerir os seus sintomas. Frequentemente fazem-no fora dos enquadramentos legais, apoiando-se em redes informais de outros veteranos que partilham informação, experiências e estratégias de redução de riscos.

Para minimizar potenciais efeitos adversos, estes utilizadores tentam informar-se o mais possível e, quando conseguem, contam com a presença de um “trip-sitter”. Ainda assim, os riscos não são negligenciáveis: um estudo recente com 217 veteranos norte-americanos mostrou que 59% relatou efeitos adversos após o uso de psicadélicos. Os mais comuns incluíram flashbacks (reativação dos efeitos psicadélicos), episódios de craving (desejo intenso de repetir a experiência) e tentativas de cessação ou redução do consumo.
Apesar disso, 89% dos participantes considerou a experiência globalmente benéfica. Os veteranos entrevistados pela The War Horse reforçam esta ideia, relatando que nenhum outro tratamento lhes trouxe melhorias comparáveis. Descrevem que certas “verdades universais” — o amor importa, deixe ir o que não tem importância, perdoe-se — parecem ganhar uma clareza e permanência singulares após a experiência psicadélica.
Histórias semelhantes surgem também no documentário In Waves and War. que acompanha veteranos norte-americanos que viajam para o México para receber tratamento com ibogaína e 5-MeO-DMT. O filme oferece não só uma visão íntima da preparação e do acesso a estas experiências, mas também um retrato marcante das memórias de combate e do impacto duradouro que estas tiveram na saúde mental e física de cada veterano.

No sentido de disponibilizar terapia assistida por psicadélicos a veteranos das forças armadas da Ucrânia e respetivos cônjuges, a organização ucraniana Fenix Project estabeleceu um centro piloto em Espanha onde realiza sessões de terapia psicadélica combinadas com acompanhamento psicológico e processos de integração.
A meta inicial passa por tratar 300 veteranos. Até janeiro de 2024, o projeto já tinha apoiado 18 militares e familiares. O serviço é inteiramente gratuito, dependendo de donativos e patrocínios. A estrutura coordena todo o processo: desde a viagem dos participantes da Ucrânia até Espanha, passando pela gestão do centro e pela prestação de cuidados terapêuticos.
O Fenix Project é co-fundador da Ukrainian Psychedelic Research Association (UPRA), entidade dedicada à reforma legislativa na Ucrânia para regulamentar o acesso a psicadélicos. O objetivo é implementar protocolos legais de terapia psicadélica, formar profissionais qualificados e criar programas de acesso alargado no território ucraniano.
