Prática Profissional

Modelo ACE e ACER: Novas Perspetivas na Terapia Psicadélica

O campo da terapia assistida por psicadélicos tem testemunhado avanços significativos nos últimos anos, com modelos inovadores a emergirem para apoiar os pacientes na integração das suas experiências. Entre estes, destacam-se o modelo ACE (Aceitar, Conectar, Incorporar) e a sua evolução, o modelo ACER (Aceitar, Conectar, Incorporar, Restaurar), ambos desenvolvidos pela psicóloga clínica britânica Dra. Rosalind Watts.

Modelo ACE: Uma Abordagem Compassiva

O modelo ACE foi concebido como um enquadramento terapêutico para pacientes em estudos clínicos com o uso de psilocibina no tratamento da depressão resistente. Baseado nos princípios da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), o modelo ACE enfatiza três pilares:

  • Aceitar: Encoraja os indivíduos a acolherem as suas emoções e experiências internas, mesmo as desconfortáveis, promovendo uma relação mais saudável com o sofrimento;
  • Conectar: Fomenta a ligação consigo mesmo, com os outros e com o mundo natural, reconhecendo a importância das relações interpessoais e da conexão com a natureza para o bem-estar psicológico;
  • Incorporar: Incentiva a integração das experiências vividas durante as sessões psicadélicas no quotidiano, através de ações alinhadas com os valores pessoais.

Este modelo foi aplicado em estudos conduzidos no Imperial College London, demonstrando eficácia na promoção da flexibilidade psicológica e na redução dos sintomas depressivos. O manual está disponível para download no site da Dra. Rosalind Watts

Modelo ACER: Uma Evolução Sustentada

Reconhecendo a necessidade de um suporte contínuo na integração das experiências psicadélicas, a Dr.ª Watts desenvolveu o modelo ACER, adicionando o componente “Restaurar” ao modelo ACE. Este modelo é implementado através do programa ACER Integration, um ciclo anual de integração que ocorre numa comunidade online global.

O modelo ACER propõe quatro etapas interligadas:

  • Aceitar: Reconhecer e acolher todas as partes de si mesmo, incluindo as mais desafiadoras;
  • Conectar: Estabelecer ligações significativas com os outros e com o ambiente natural;
  • Incorporar: Aplicar os insights adquiridos nas experiências psicadélicas na vida diária, promovendo mudanças comportamentais alinhadas com os valores pessoais;
  • Restaurar: Reequilibrar e renovar a conexão com o mundo natural, reconhecendo os ritmos e ciclos da natureza como fontes de sabedoria e cura.

O programa ACER Integration utiliza metáforas inspiradas em árvores para explorar temas mensais, como o carvalho (aceitação de todas as partes de si mesmo) e o sabugueiro (conexão com os antepassados), promovendo práticas de reflexão, respiração e apoio comunitário. 

Impacto e Aplicações

Tanto o modelo ACE quanto o ACER oferecem estruturas para a integração de experiências psicadélicas, promovendo a saúde mental e o bem-estar dos participantes. Estes modelos destacam-se por enfatizar a importância da conexão — consigo mesmo, com os outros e com a natureza — como elemento central no processo.

Além disso, o modelo ACER tem sido adotado por terapeutas e facilitadores que procuram aprofundar as suas competências na integração de experiências psicadélicas, bem como por indivíduos que desejam explorar práticas de autoconhecimento e crescimento pessoal num contexto comunitário e sustentado.

Conclusão

Os modelos ACE e ACER representam abordagens inovadoras na terapia assistida por psicadélicos, oferecendo formas estruturadas para a integração de experiências transformadoras. Ao enfatizarem a aceitação, a conexão, a incorporação e a restauração, estes modelos promovem uma abordagem holística e compassiva à saúde mental, alinhada com os princípios da psicologia contemporânea e as necessidades emergentes da sociedade atual.

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