Testemunhos
#LSD#MDMA#psilocibina

Barnabé

46 anos – Músico, fotógrafo e videógrafo

Pode-se dizer que sou um psiconauta desde nascença, pois fui concebido quando os meus pais estavam sob o efeito de LSD, na praia de Paço de Arcos e, desde cedo, tive várias experiências com psicadélicos.

A minha primeira toma de LSD foi aos 16 anos, com a minha mãe, em Londres. Ver a minha mãe, que, infelizmente, era viciada em heroína e que estava sempre irrequieta e em dependência, a consumir LSD e a entrar noutro nível em consciência em que estava na sua essência pura, foi muito especial.  Nessa primeira toma estava com algum medo e meio paranoico, com medo de ir parar a outro mundo. Acabou por abrir realmente as portas da percepção, e percebi os detalhes que pareciam tão pequenos e que, afinal, eram tão grandes e importantes. Na vez a seguir lembro-me de estar a comer uma sandes num pão rasca e, por estar sob o efeito de LSD, pensar que estava a comer a melhor sandes do mundo. Antes de tomar LSD pela primeira vez, experimentei heroína e a experiência com o LSD foi fulcral para que não caísse no mundo da toxicodependência, o que teria sido muito fácil porque estava num ambiente propício a isso. Perceber que afinal havia mais na vida do que o que percepcionamos foi o que me fez entender o mundo e não cair no vício.

Ao olhar para o espelho e ver a cara a mudar, para um cadáver, um palhaço e outras personagens, percebi que tudo é relativo.

Os psicadélicos fizeram com que não seja tão rígido de pensamento, promovendo flexibilidade e maleabilidade na minha vida. Sinto-me de mente aberta para tudo, porque nada é certo, à exceção da morte, com a qual aprendi a lidar melhor com os psicadélicos.

No entanto, tomado de forma não preparada, pode ter consequências não tão positivas. O LSD fez com que ficasse muito agarrado (se calhar demasiado) à vida, o que me fez ficar com fobia a aviões. Assim sendo, queria salientar que nem toda a gente está preparado para consumir psicadélicos e, quando consumidos, têm de ser com um set e setting adequados. É preciso existir abertura, é preciso estar pronto e é preciso estar com as pessoas certas.

Numa das últimas viagens significativas de cogumelos vi fractais e estava a sentir-me bem. Consegui meter os livros que estavam no chão, espalhados, na prateleira, a nível mental. Significou, por exemplo, resolver a relação da altura que não estava a ir a lado nenhum e resolver um problema com a ex mulher, fazendo com o que divórcio fosse mais amigável. Também fiz várias músicas, em completo fluxo. Deitei-me ao sol demasiado tempo e fiquei sem comer demasiado tempo, o que talvez tenha contribuído para a baixa tensão, que me fez pensar que ia morrer.

Outra viagem significativa foi em Sintra, no meio da Natureza, e uma das lições que aprendi é que se tem de estar num setting seguro, em que não haja propensão para acidentes. Neste caso acabei por bater com a cabeça numa pedra porque deveria respeitar melhor o terreno onde estava. Fui para esta viagem com outra pessoa, para a ajudar, mas acabei por ser ajudado pela mesma Natureza que ajudou a minha amiga.

A mensagem que tive das árvores nesta sessão foi “stand tall, be a man”, que deveria enfrentar as adversidades da vida de forma segura e confiante, tal como elas. Acabei por cortar também com o que senti que me estava a fazer mal, tal como açúcar e café. Quando cheguei a casa comecei a chorar e a dizer ao meu companheiro de casa que tudo o que queria na vida era que eu e a mãe do meu filho, que tem uma doença degenerativa, tivéssemos uma relação saudável depois do divórcio. Antes de me deitar, na altura em que ainda me sentia sem ego e mais vulnerável, peguei no telefone e mandei-lhe uma mensagem de áudio que mudou completamente a forma como vivemos a nossa relação e como seria o futuro com o nosso filho. Foi muito significativo para mim e para a nossa relação.

Outra coisa que se deve ter atenção quanto aos psicadélicos é o que dizemos às outras pessoas previamente sobre determinada experiência, que pode influenciar a viagem.

Eu, por exemplo, lido com as paranoias e bad trips com placebos. Não preciso de um objeto, basta a intenção de que estou numa viagem e que irá passar.

A única bad trip que tive foi num casamento em Portugal. Fui a Amesterdão comprar LSD e o dealer engraçou comigo e levou-me a Roterdão. Depois fui para Paris, e tomei LSD sozinho no comboio. Na carruagem estava um holandês com bastante marijuana e um alemão que só fumava cigarros aos fins de semanas. Partilhei LSD com eles e, durante a viagem, senti que queria sair do comboio a todo o custo. Fechei-me na casa de banho e meditei, a respirar, e a sentir que era apenas uma viagem e que iria sair dela. Consegui relativizar tudo pensando que estava a ver um programa sobre natureza na TV ao ver a janela do comboio.

No que diz respeito à integração, tenho sempre cuidado de perceber como é que a pessoa com quem fiz a sessão está, acompanhando-a algum tempo depois. Por exemplo, na primeira viagem de cogumelos que fiz com um amigo, abordei muitas coisas que estou a resolver, relacionados com a minha vida artística. Tenho um problema de auto sabotagem a nível da música e, depois dessa viagem, passei muito tempo a organizar a minha música toda e a partilhá-la com as pessoas, ultrapassando assim este síndrome que me afetava. Ao organizar tudo isso dentro da minha cabeça e no exterior, consigo compor nova música e criar novamente.

As sessões de psicadélicos são importantes, mas mais importante ainda é o acompanhamento posterior e tudo o que resulta de ações e comportamentos posteriores. Há mudanças de hábitos que resultam destas experiências que acabam por ter um grande impacto na nossa vida.

Nota: Alguns nomes nos testemunhos foram alterados para assegurar o anonimato.