Julia
26 anos – Designer
Quando tomava LSD tive muitas bad trips e, devido a isso, parei a 100% com tudo o que fosse alucinógeno, incluindo a maconha. Procurei a ayahuasca por causa deste problema, mas também por causa de um problema com álcool. O meu pai tinha tomado ibogaína e isso tinha ajudado muito com a dependência e também com a sua própria vida, então decidi experimentar ayahuasca para ver se também conseguia lidar com esta adição.
Quando fiz a primeira sessão de ayahuasca procurava o mesmo fascínio que tinha tido com o LSD, mas acabou por ser uma experiência muito diferente, por ter sido no contexto de Santo Daime. Nesta sessão deixei de querer procurar a parte divertida e alucinógena e concentrar na cura. O efeito veio mais nos dias seguintes do que na própria sessão, foi todo um processo, fui-me abrindo para processos mais profundos da realidade e de mim mesma.
Graças à ayahuasca curei a dependência pelo álcool, senti que toda a experiência foi muito pura. Senti-me uma partícula solta no Universo, sem ter onde me agarrar, não conseguia aguentar essa grandeza, não cabia dentro de mim, fiquei com medo de me soltar e de não me soltar mais. O facto de, nesse instante, ter chamado os orientadores da sessão foi chave para mim. Disseram-me para me focar mais em mim do que no que estava fora e a partir daí senti toda essa beleza de fora a atuar dentro de mim e deixei de ter medo.
Nessa mesma experiência, que foi a última, senti que Deus falou comigo através da ayahuasca. Deus era essa imensidão e, quando vim mais para dentro, Deus veio comigo, ele conseguiu diminuir-se para ficar perto de mim e dentro de mim. A imagem que tive foi a de que ele estava a fazer um sumo de laranja para mim, na cozinha. Consegui pegar em todas as minhas mágoas e expô-las a ele e senti-me, depois, muito limpa e leve, saiu um peso gigante. Senti-me como se estivesse a falar com uma pessoa com quem queria falar há muito tempo, mas que não tinha havido ainda oportunidade e a sessão deu-me essa oportunidade. Consegui expressar tudo o que tinha contido durante tantos anos.
A preparação para a ayahuasca, a nível de alimentação e preparação da mente, é muito importante, porque quando a fiz de forma mais rigorosa na última sessão, foi quando senti mais os efeitos e a experiência foi mais significativa, ao contrário das outras sessões em que a preparação não foi tão rigorosa. Já tinha tomado ayahuasca numa igreja Santo Daime e numa reunião xamânica e senti a falta de acompanhamento posterior. Nas últimas vezes as sessões foram com um grupo no qual se faz a integração e há um acompanhamento posterior das pessoas. Isto pode fazer toda a diferença, pois conheço uma pessoa que nunca mais fez porque não teve acompanhamento. As conversas antes e depois das sessões são muito importantes, assim como o facto de termos um grupo de whatsapp através do qual podemos comunicar com todos os participantes e com os orientadores da sessão, criando-se um sentido de comunidade, em que todos estão em contacto. É uma das melhores coisas nestas experiências. É muito bom e lindo!
Nota: Alguns nomes nos testemunhos foram alterados para assegurar o anonimato.