Testemunhos
#ayahuasca#psilocibina

Simão

22 anos – Facilitador transpessoal

Tive o meu primeiro contacto com psicadélicos aos 15 anos, com ayahuasca. Uma amiga da minha mãe facilitou uma pequena sessão, e questionou se eu queria participar. Acabei por não ir com muita consciência porque não sabia ainda nada sobre psicadélicos. Não tive muita noção do que se passou durante a cerimónia, mas senti que houve uma expansão de consciência e que de algum modo me compreendia muito melhor. Experimentei também, por volta dessa altura, rapé e sananga.

Há uns tempos, muitos anos depois dessa primeira experiência, surgiu uma nova oportunidade para viajar no mundo dos psicadélicos através de um facilitador que trabalha com cogumelos mágicos/ trufas e esta foi para mim, realmente a primeira experiência com psicadélicos de forma inteiramente consciente.

Sempre tive um desejo de compreender melhor o ser humano, o que é isto da vida, o que é isto da consciência, o que é isto do lado espiritual da vida. Acredito que a vida é mais do que os nossos olhos veem, que o sagrado que a nossa sociedade parece ter esquecido, continua presente no nosso mundo, esse mundo no qual os humanos me parecem necessitar de um grande desenvolvimento e expansão de consciência. Os psicadélicos podem mesmo ser um método para alcançar esse maior entendimento de quem somos e de como podemos interagir com a realidade de forma mais profunda, consciente e presente.

Nessa primeira experiência com a psilocibina (as trufas/ cogumelos mágicos) fui ao Inferno e ao Céu no mesmo dia. O início foi maravilhoso, senti que tive uma experiência mística, transcendente e que era uno com o Universo. Não distinguia aquilo que podia chamar de Eu e aquilo que supostamente estava para lá dos limites do que sou. Foi uma magnífica sensação de inclusão e conexão com o todo.

Contudo, depois comecei a sentir que estava numa espiral em que estava a viver o mesmo momento vezes sem conta. Já não sabia o que era real e o que não era e tive medo de ficar preso na espiral para sempre. Os facilitadores asseguraram-me que esse momento iria acabar e um colega (professor de yoga) que estava também a participar na sessão e ficou ao meu lado, quando percebeu que eu estava a fazer uma grande resistência ao processo, disse-me “Respira! A respiração é o segredo da vida”. Foquei-me então na respiração, deixei de resistir e consegui integrar bem a experiência.

A segunda experiência com trufas foi ainda mais consciente e mais clara. Foi importante a medicina psicadélica mostrar-me que não é preciso ter sempre uma experiência demasiado intensa, a viagem também pode ser leve e não deixa por isso de ser muito profunda.

Através das minhas experiências retirei várias lições como a noção de que a realidade é muito mais profunda do que achamos, e estamos muito mais ligados do que achamos, com tudo o que nos rodeia. Mesmo que não seja possível estar sempre neste estado transpessoal, sinto no meu dia-a-dia uma maior compaixão por tudo e por todos.

O Allan Watts diz algo do género: “somos um ator que se perdeu na personagem e esquecemo-nos de quem somos”. Os psicadélicos ajudam-nos a voltar novamente à posição do ator (relembrando-nos da nossa essência) e a aproveitar de forma mais profunda o privilégio e a bênção de participar neste teatro da vida e de sermos esta personagem.

Os psicadélicos não são para toda a gente em todos os momentos e, o mais importante para quem quer experimentar, é que procurem facilitadores e locais que possibilitem uma experiência e integração seguros. 

Nota: Alguns nomes nos testemunhos foram alterados para assegurar o anonimato.