Ciência

Psicadélicos e Vida Saudável: Faz Sentido?

A associação entre o uso de psicadélicos e a saúde mental tem sido explorada em vários estudos nos últimos anos, com resultados promissores. Menos frequentes têm sido análises que procuram avaliar se o uso destas substâncias influencia, positiva ou negativamente, a saúde física e a ocorrência de doenças crónico-degenerativas. Recentemente, investigadores norte-americanos procuraram explorar esta associação através de um estudo científico que utilizou uma amostra representativa da população dos EUA.

Com dados do National Survey on Drug Use and Health (Inquérito Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde), que recolhe anualmente informação sobre estes temas, foram estudados mais de 170,000 adultos, com o objetivo de compreender a associação entre o uso ao longo da vida dos chamados ‘psicadélicos clássicos’ – DMT, ayahuasca, psilocibina (e.g., cogumelos mágicos), LSD, mescalina, São Pedro ou peyote – e a saúde geral auto-relatada, o índice de massa corporal (uma medida de obesidade) e a existência de doença cardíaca ou cancro nos últimos 12 meses. 

Os resultados mostraram que o uso de psicadélicos, pelo menos uma vez ao longo da vida, estava associado a uma melhor saúde, tal como percebida pelo participante, e a uma menor probabilidade de ter obesidade ou peso excessivo, mesmo tendo em conta variáveis como a idade, o sexo, condições socioeconómicas, etnia, habilitações académicas e uso de tabaco e outras substâncias.

Recorrendo novamente aos dados do National Survey on Drugs Use and Health, um novo estudo científico, procurou explorar a associação entre o uso ao longo da vida de psicadélicos clássicos e a doença cardíaca e a diabetes. Os resultados indicam uma menor probabilidade de ambas as doenças nos utilizadores de psicadélicos. 

Em estudos desta natureza não é possível estabelecer uma relação de causa-efeito entre as variáveis, mas estes trabalhos são dos primeiros a avaliar estas associações, salientando a necessidade de mais investigação nesta área, nomeadamente para se conhecerem eventuais mecanismos explicativos. Uma das hipóteses é a existência de uma associação entre o uso de psicadélicos e uma maior prevalência de comportamentos protetores como uma alimentação saudável, atividade física, ou práticas contemplativas redutoras de stress a ansiedade

Numa revisão recentemente publicada, o investigador português Pedro Teixeira (Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa; coordenador do SafeJourney) e colegas do Imperial College de Londres e da Universidade de Johns Hopkins, exploram essa possibilidade, baseada em análises secundárias de vários estudos que revelam alterações espontâneas em vários comportamentos de saúde por parte de uma quantidade substancial de participantes, após uma experiência psicadélica. Este tema e artigo foram recentemente sintetizados no Observatório do Instituto Synthesis pelo próprio autor do artigo. 

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