Ciência

Benefícios da Microdosagem com Psicadélicos Devem-se ao Efeito Placebo?

Usando a metodologia inovadora de “self-blinding” (“ciência dos cidadãos”), em que os participantes usaram microdoses em contexto ecológico (isto é, na sua vida real) mas sem saberem se estão a tomar uma microdose de uma substância psicadélica ou um placebo, este novo estudo – um dos maiores e mais bem concebidos a investigar os efeitos da microdosagem – revela resultados surpreendentes quanto aos efeitos desta forma popular de consumo de psicadélicos. Neste estudo, a maioria dos participantes usou LSD (61%), cogumelos mágicos (24%) ou um análogo de LSD (14%), em microdoses.

Tendo como responsável o médico e investigador David Erritzoe e contando com a co-autoria de Amanda Feilding, David Nutt e Robin Carhart-Harris (entre outros), este estudo, com 191 participantes, não encontrou diferenças significativas para o efeito do psicadélico (vs. placebo) para nenhuma das variáveis psicológicas estudadas. Apenas foram observadas diferenças entre os grupos para a “intensidade do efeito psicoativo”. Este novo estudo fornece robustez científica à hipótese de que, na microdosagem, e talvez também no uso de “macrodoses” com psicadélicos, o efeito placebo é poderoso. Ou seja, que as crenças que as pessoas transportam para a experiência influenciam fortemente os resultados da mesma.

São várias e importantes as implicações do estudo, discutidas de forma aprofundada pelos autores. Entre elas a óbvia indicação de que a sugestão prévia e o conhecimento de que se está a tomar uma substância psicoativa (nota: no estudo, a maioria das pessoas que tomou a substância real adivinhou corretamente que assim era) têm uma influência decisiva nos efeitos sentidos. Os autores comentam também sobre a possibilidade de os efeitos dos psicadélicos poderem situar-se numa fronteira difícil de separar (p.ex., em estudos futuros) entre um efeito fisiológico e um efeito psicológico – até mesmo que uma sinergia entre ambos possa ser um dos seus trações distintivos.

Fonte: eLife.
Data: 2 março 2021
Ligações: Estudo original.

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