Ciência

Efeitos do Consumo de Canábis Durante uma Experiência Psicadélica

Um estudo recente investigou se o consumo de canábis durante uma experiência psicadélica modulava o efeito da experiência, comparando com quem não usou canábis. O estudo foi conduzido por investigadores do Imperial College London e participaram no estudo 321 adultos, que preencheram questionários online antes e imediatamente a seguir a terem participado num retiro ou outra ocasião com a toma de um psicadélico. Foram controlados inúmeros fatores de contexto como o tipo de retiro/encontro (ex., terapêutico ou recreativo) e o seu enquadramento (p.ex., se continha elementos “shamânicos”).

Clicar na imagem para ter acesso ao estudo original.

Dos participantes do estudo, cerca de 40% consumiram canábis de forma concomitante com a toma do psicadélico, o que indica que esta é uma ocorrência relativamente frequente e que merece ser estudada. Neste estudo, os psicadélicos mais usados foram LSD (50%), psilocibina (cogumelos ou trufas, 29%) e ayahuasca (12%). A idade média dos participantes, que foram recrutados por todo o mundo (sobretudo na América do Norte e na Europa), era de 30 anos. Mais de 70% dos participantes tinha algum tipo de formação/frequência universitária, com 21% reportando um Mestrado ou Doutoramento.

Grupos de utilizadores que participaram no estudo.

As principais conclusões do estudo indicam que 1) o consumo de canábis intensificou de forma linear a experiência nas dimensões relacionadas com o caráter místico da experiência, com a dissolução do ego, e com a ocorrência de experiências visuais. Ou seja, quanto maior a dose de canábis, maior o resultado obtido nos questionários que avaliaram estas três dimensões; 2) não houve relação entre o consumo de canábis e a intensidade da experiência emocional (“emotional breakthrough”); 3) a relação entre o consumo de canábis e o caráter desafiante / negativo da experiência (“challenging experience”) foi quadrática: em doses inferiores, a canábis reduziu estas experiências negativas enquanto em doses mais altas aumentou (sobretudo nas dimensões “medo” e “insanidade” (ver imagem seguinte).

A linha azul representa ausência de consumo de canábis; as linhas verdes representam um consumo progressivo (do verde claro para o escuro).

O estudo tem inúmeras limitações e não é, só por si, suficiente para descrever a relação em causa de forma definitiva. Contudo, aponta para a relevância de se considerar que o consumo concomitante destas substâncias pode influenciar a natureza e a intensidade da experiência, sobretudo quando a canábis é consumida em quantidades elevadas. Diversos mecanismos podem explicar esta relação, incluindo fatores sinérgicos entre as duas substâncias; ou os efeitos independentes (ou diretos) da canábis, que são conhecidos – muitas pessoas reportam experiências do tipo psicadélico apenas com o consumo de canábis, sobretudo em dose elevada.

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