Numa entrevista arrojada e esclarecedora, João Ribeiro, médico psiquiatra e cofundador da primeira clínica de terapia assistida por ketamina em Portugal, explora os potenciais benefícios e limitações dos psicadélicos no contexto da saúde mental. O clínico refere nesta entrevista que as substâncias psicadélicas têm a capacidade de proporcionar experiências profundas e transformadoras que, quando em contexto terapêutico, podem ajudar a abrir novas perspectivas de mudança e a desafiar padrões de pensamento cristalizados. Salientou ainda a dinâmica crescente de evidência da eficácia da psicoterapia assistida por psicadélicos em várias condições de saude mental como a depressão, a ansiedade e a perturbação por stress pós-traumático.
No entanto, João Ribeiro ressalva também que um impacto profundo dos psicadélicos na saúde mental só será conseguido se houver uma mudança de paradigma na nossa abordagem de resolução dos problemas atuais. A maioria dos sistemas de saúde e políticas públicas baseiam-se em modelos farmacológicos e terapêuticos tradicionais, o que poderá dificultar a incorporação de práticas importantes como a intregação psicológica e da terapia pós-experiência psicadélica, bem como negligenciar factores fundamentais na terapia assistida por psicadélicos, como é o caso do contexto.
O psiquiatra argumenta que é necessário adotar uma abordagem mais holística e inclusiva, que considere a interconexão entre a saúde mental, a espiritualidade, a cultura e o meio ambiente. Estas mudanças implicam o desenvolvimento de um sistema de cuidados de saúde que valorize a autonomia do paciente, promova a educação e a formação adequadas, e que integre a evidência acumulada através da investigação científica, bem como os ensinamentos e conhecimentos das culturas ancestrais.