Cultura

Microdosagem – Uma das Principais Tendências no Consumo de Psicadélicos

Publicado no final do ano passado, o Global Drug Survey (GDS) 2021, o maior inquérito mundial sobre o uso de drogas, iniciado em 2012, indica que houve uma ligeira quebra na utilização de psicadélicos – a par, de resto, com quase todas as outras substâncias. Apesar disso, os dados dos seis anos anteriores mostram uma tendência crescente de uso de psicadélicos, pelo que a diminuição agora registada terá sido motivada pelas restrições associadas à Covid-19. 

No entanto, o inquérito – que recebeu respostas de mais de 32.000 pessoas em mais de 20 países, entre dezembro de 2020 e março de 2021 – aponta uma tendência crescente no uso da microdosagem de psicadélicos. O relatório mostra que, das pessoas que usaram LSD e “cogumelos mágicos” nos 12 meses anteriores – cerca de 3000 entrevistados para cada substância – 22% relataram ter usado microdoses. Deste grupo de 22%, metade apenas usou microdoses, enquanto os outros 50% também tomaram doses completas.

A microdosagem refere-se à toma regular (e.g. várias vezes por semana) de quantidades reduzidas de uma substância psicadélica, por comparação com tomas completas, que induzem viagem psicadélicas (entre 5-15% de redução). Ao contrário dos efeitos de doses completas de uma substância, que estão razoavelmente bem estudados do ponto de vista científico, os resultados dos estudos com microdosagem são atualmente inconclusivos, como mostra, por exemplo, este estudo recente.

Em declarações ao The Guardian, Adam Winstock, o fundador e director do GDS, refere que, se no passado as pessoas usavam a microdosagem para melhorar o desempenho e a criatividade, agora parecem estar a usá-la para melhorar o bem-estar e para lidar com o sofrimento associação a questões de saúde mental. Uma das hipóteses, segundo o psiquiatra especialista em adições, é que muitas pessoas estejam a usar este tipo de consumo como forma de colmatar o aumento do tempo de espera nos serviços de saúde durante a pandemia. 

Cerca de um terço daqueles que fizeram microdosagens com LSD ou “cogumelos mágicos” (psilocibina) relataram também experimentar outras substâncias, incluindo cetamina (ou ketamina), ayahuasca e MDMA (ou Ecstasy). Esta última substância, no entanto, segundo o relatório, foi uma das que teve uma maior quebra de consumo durante a pandemia, provavelmente por estar associada a contextos de festa e vida nocturna. Dados de 2021 relativos a Portugal, no campo das substâncias psicadélicas, limitam-se ao consumo de MDMA e mostram a mesma tendência: na perspetiva dos 750 consumidores desta substância, a pandemia teve um forte impacto na sua utilização, com 56% a referir menos uso.  

Também o Relatório Europeu sobre Drogas de 2021, refere um decréscimo dos consumos de MDMA, mas menciona que “os dados dos inquéritos online de pessoas que autorrelatam o consumo de drogas também sugerem um maior consumo de álcool e uma maior experimentação de psicadélicos, como o LSD e o 2C-B (2,5-dimetoxi-4-bromofenetilamina), bem como de drogas dissociativas como a cetamina”. Isto, sugerem, pode “refletir um aumento da procura de substâncias eventualmente consideradas mais adequadas para consumo doméstico”.

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