Richard Elliot Doblin (1953 – ) é o fundador e diretor executivo da Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS; Associação Multidisciplinar para o Estudo dos Psicadélicos). Ele criou a associação em 1986, depois do MDMA passar a ser considerado uma substância proibida. A organização celebrou recentemente o seu 35º aniversário, e tem 130 funcionários entres os quais neurocientistas, farmacologistas e especialistas em regulamentação. Doblin é doutorado em políticas públicas pela universidade de Harvard, Kennedy School of Government. A sua dissertação foi sobre a regulamentação do uso medicinal de psicadélicos e marijuana. No New College, na Flórida, ele incidiu a sua tese de bacharelato ao estudo da “experiência da sexta-feira santa” (good friday experiment) após 25 anos da sua implementação com estudantes de um seminário religioso. Rick Doblin escreveu também um artigo de investigação sobre a experiência da prisão de Concord, também liderada por Timothy Leary, e percebeu que os dados não foram reportados de forma objetiva. Doblin decidiu dedicar a sua vida aos poderes curativos dos psicadélicos depois de uma experiência com LSD enquanto estava na faculdade, há quarenta anos atrás. Ele fez a sua tese de mestrado sobre o uso terapêutico da marijuana para a quimioterapia e esteve na primeira turma certificada por Stanislav Grof para a prática de Respiração Holotrópica.
A 10 de maio de 2021, a Nature Medicine publicou “Terapia assistida por MDMA para PSPT severo: um ensaio clinico de fase 3, aleatorizado, duplamente cego e controlado por placebo”, com resultados muito bem-sucedidos de um estudo financiado pela MAPS. É o primeiro estudo de fase 3 na área de psicadélicos e segue padrões rigorosos que conquistaram respeito na comunidade científica. Os resultados mostraram que, combinado com o aconselhamento, o MDMA permitiu melhorias aos participantes incluídas no estudo, que já tinham sido diagnosticadas com perturbação por stress pós-traumático há mais de 14 anos, depois de terem experiências de guerra, como socorristas, ou sobreviventes de trauma. Dois meses após o tratamento, 67% dos indivíduos do grupo de intervenção já não preenchiam os critérios para o diagnóstico, em comparação com 32% entre o grupo que recebeu um placebo. Não houve efeitos adversos graves, embora os participantes tenham sido cuidadosamente selecionados para excluir pessoas com distúrbios psiquiátricos graves ou problemas cardíacos. Um sujeito, Scott Ostrom, tinha PSPT desde 2007, quando teve o seu segundo destacamento para a frente de combate. Scott afirmou que é literalmente uma pessoa diferente por causa da terapia assistida por MDMA. Afirmou ainda que a substância estimulou a capacidade da sua consciência se curar a si mesma e que ele percebeu que pode sentir amor incondicional por si próprio.
O principal autor do estudo é Jennifer Mitchell, neurocientista da Universidade da Califórnia em San Francisco. A investigação aconteceu em 15 locais com 80 terapeutas. Primeiro foram organizadas três sessões preparatórias de terapia de 90 minutos para estabelecer confiança e ajudar os sujeitos a prepararem-se para responder às memórias e sentimentos que poderiam surgir durante as sessões. Os sujeitos tiveram depois três sessões de oito horas mensais de aconselhamento com dois terapeutas, coadjuvadas com MDMA ou com placebo. Cada sessão experimental foi seguida por três sessões de integração de 90 minutos, um dia após a longa sessão, e mais duas com intervalo de uma semana com os dois terapeutas. A confirmação final da fase 3 está em desenvolvimento e deverá levar à aprovação pela FDA da psicoterapia assistida por MDMA já em 2023.
Este tipo de investigação é muito cara e requer um foco intensivo. A MAPS angariou 44 milhões de dólares nos últimos dois anos, sendo o culminar de um esforço de vinte anos. É por isso que maio de 2021 é um momento importante na história do tratamento da pertubação por stress pós-traumático com psicoterapia assistida pelo empatógeno MDMA. Estudos mostram que cerca de 13% dos veteranos de combate têm pertubação por stress pós-traumático e que isso teve um custo económico de 17 mil milhões de dólares só considerando 2018. Enquanto os tratamentos tradicionais envolvem a redução dos sintomas e entorpecimento dos sentimentos, a terapia assistida com MDMA tenta chegar à raiz do trauma, e ao facilitar o envolvimento com o trauma, abre outras fronteiras à consciência e à alegria de viver.
Rick Doblin afirma: “A MAPS agregou um valor tremendo, mas em vez de permitir que esse valor seja privatizado, garantimos que ele será devolvido à comunidade global por meio de nossa Corporação de Benefício Público MAPS de propriedade integral. Se obtivermos a aprovação regulatória, o nosso departamento farmacêutico comercializará a prescrição de terapia assistida por MDMA para PSPT, com todos os lucros canalizados para o avanço da missão da MAPS”.
Doblin e a MAPS estão a conjugar esforços para acelerar a legalização dos psicadélicos uso por adultos com requisitos de licenciamento. Rick Doblin está preocupado com os investimentos com fins lucrativos que podem restringir fontes alternativas para maximizarem o lucro. Com base nestes estudos, Rick Doblin acredita que deveria haver milhares de clínicas para vários tipos de terapias assistidas por psicadélicas. O investigador defende que um renascimento da consciência está em desenvolvimento, incluindo a Europa, Canadá e Israel. Um outro interesse que a MAPS tem procurado é o de utilizar a ibogaína para tratamento da adição a opioides e para a perturbação por stress pós-traumático. A empresa farmacêutica Atai Life Sciences reivindicou uma patente da ibogaína, mas Doblin argumentou que a mesma é de domínio público e deveria estar disponível para proteger um acesso mais amplo.