O etnobotânico Terence McKenna (1946-2000) foi um explorador, filósofo e entusiasta de plantas medicinais tais como a Ayahuasca e os cogumelos com psilocibina. Os seus escritos e palestras nas décadas de 80 e 90 despertaram a imaginação de uma segunda geração de investigadores inspirados pelo potencial dos psicadélicos para a cura e o desenvolvimento pessoal.
Mckenna escreveu vários livros, incluindo Food of the Gods (1992), True Hallucinations (1989), Sacred Mushrooms e Psychedelics. Teve como primeiras influências o artigo da Life Magazine, de maio de 1957, sobre a descoberta do uso de cogumelos psicadélicos, os escritos de Aldous Huxley, a alquimia e a tradição popular Bon do Tibete. Terrence interessou-se pelo xamanismo na faculdade e viajou para a Amazónia colombiana em 1977. Depois de completar a sua formação académica, ele e o seu irmão Dennis, escreveram o bem-sucedido Psilocybin: Magic Mushroom Grower’s Guide, que ensinava como cultivar cogumelos em grãos de centeio. Com Kathleen Harrison, Terence McKenna estabeleceu uma reserva no Havai chamada Botanical Dimensions para preservar plantas medicinais da América Central, América do Sul, África e Tailândia e para cultivar plantas valorizadas pelos povos indígenas de áreas tropicais.
McKenna foi um forte defensor da exploração do “eu” interior e tinha também uma mente científica e curiosa: “Quem experimenta deve ser cuidadoso. É preciso preparação para a experiência psicadélica. Estas são dimensões bizarras de poder e beleza extraordinárias. Não existe uma regra definida para evitar ser assoberbado pela força da experiência psicadélica, mas avança com cuidado, reflete muito, e tenta sempre mapear as experiências tendo em conta a história da humanidade e as realizações filosóficas e religiosas da nossa espécie. Todas as substâncias são potencialmente perigosas e todas elas, em doses suficientes ou repetidas ao longo do tempo, envolvem riscos.”
Terence McKenna referiu que “a biblioteca é o primeiro lugar onde ir quando se pretende tomar uma nova substância”. Falava frequentemente sobre como a Ayahuasca, assim como outras plantas medicinais, podem ser usadas de forma responsável e cuidadosa para a transformação pessoal, para explorar mistérios universais e para restabelecer a relação harmoniosa do homem com a natureza. Nas suas palestras, McKenna advertiu que estes medicamentos poderosos não são para os mais receosos, mas que “a natureza ama a coragem” e “recompensa a coragem removendo obstáculos”. Isto é o que se vê no momento de integração na manhã seguinte a uma cerimónia: as múltiplas possibilidades e interconexões das várias ideias que nos foram surgindo.
McKenna gostava de tomar cogumelos com psilocibina, sozinho, no escuro e com os olhos fechados. Acreditava que, quando tomado desta forma, seria possível esperar uma profunda experiência visionária e que os cogumelos eram uma força transcendente, e que contribuíram para a evolução na Terra. Acreditava também que, ao dissolver os limites e o apego ao ego, os psicadélicos tinham o potencial de ajudar as pessoas a conectarem-se emocionalmente, a construir uma comunidade, a sentirem-se espiritualmente em comunhão com a natureza e a ajudar a criar uma sociedade mais saudável. Terence McKenna disse que “tu não estás nú quando tiras a tua roupa. Usas ainda os teus pressupostos religiosos, os teus preconceitos, os teus medos, as tuas ilusões, os teus delírios. Quando abandonas o sistema operativo cultural, então, aí sim, ficas nú diante da análise da tua própria psique … e é desta posição, numa posição de fora do sistema operativo cultural, que podemos começar a fazer as verdadeiras perguntas sobre o que significa ser-se humano.” Declarou também que “(…) as drogas deveriam vir do mundo natural e que deveriam ser usadas e testadas por culturas com orientação xamânica … não se conseguem prever os efeitos de longo prazo de uma droga produzida em laboratório.”
Para McKenna a experiência psicadélica é a derradeira oportunidade para inverter o ímpeto autodestrutivo da humanidade, ao catalizar uma transformação mental e espiritual através da conexão à Mente Planetária (“The Gaian Mind”). Para um acesso direto às soberbas palestras de Terence McKenna, que exploram horizontes nas mais diversas áreas, desde a física à filosofia, passando pela psicologia ou a arte, há muito material recentemente disponível no Youtube.