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Aldous Huxley

Aldous Huxley foi filósofo, escritor, pianista de jazz e místico. Escreveu ficção científica, peças de teatro, comentários sociais, livros infantis e alguns dos livros mais influentes do Movimento Psicadélico. O escritor ficou intrigado com a investigação realizada por Humphry Osmond e o seu colega John Smythies, em que testavam os efeitos clínicos da mescalina e do LSD com o objetivo de aprender mais sobre a mente e as doenças mentais. Huxley enviou-lhes uma cópia de um dos seus livros e um convite para que o visitassem, expressando o seu interesse pelos fenómenos das alucinações e das doenças mentais, e declarando mesmo o seu interesse em experimentar mescalina.

A 4 de maio de 1953, no âmbito de uma deslocação a um congresso de psiquiatria em Los Angeles, Humphry Osmond visitou Huxley e supervisionou a experiência do autor com mescalina e sugeriu depois que escrevesse sobre as suas impressões. O relato ficou imortalizado no livro publicado em 1954, “As Portas da Perceção”, em que Huxley descreve que depois de uma hora e meia de ter tomado mescalina sentiu como se tivesse atravessado por um ecrã e visto “o que Adão viu na manhã da criação”. Tudo brilhava com a sua luz interior própria, tudo imbuído de significado, como o puro Ser, a fonte da existência, e descreve que foi “o milagre, momento a momento, da existência nua”. Huxley escreveu que testemunhou “a eternidade numa flor, o infinito nas quatro pernas de uma cadeira e o Absoluto nas dobras de um par de calças de flanela”. Escreveu ainda que: “A mente ao largo deixa de passar pela válvula redutora”, abrindo um campo de pensamentos e impressões, e disse repetidamente: “É assim que todos deveriam ver”. Será curioso contextualizar que Aldous Huxley sempre foi fascinado pela experiência interior e pelas realidades que estão para além dos sentidos. Aos 16 anos, após a morte de sua mãe, uma doença deixou-o quase cego por um ano e meio e isso impediu-o de participar na Primeira Guerra Mundial, deixando-o com uma visão diminuída. O escritor passou a ter de usar um pequeno telescópio e uma lupa durante a sua vida.

O livro “As Portas da Perceção” foi uma obra de introdução aos psicadélicos para muitos intelectuais e investigadores.

Huxley já tinha escrito o romance de enorme sucesso, o “Admirável Mundo Novo” em 1932, onde expressa a sua preocupação sobre como um governo autoritário poderia manipular as pessoas com tecnologia e automação, ou usar mensagens subliminares apelando às emoções para se sobrepor à sua humanidade. Mudou-se com a sua esposa Maria para Los Angeles, perto de Hollywood, em 1937. Escreveu guiões de sucesso para os filmes “Madame Curie” e “Orgulho e Preconceito”. Aldous Huxley e o seu amigo britânico Gerald Heard, autor e professor de ciência, religião e filosofia, perseguiram um interesse comum no acesso ao inconsciente, na evolução da consciência, e no universalismo, a crença de que existe uma verdade comum para lá das diferenças entre as religiões. O intelectual estudou Vedanta, a visão unitária do hinduísmo e escreveu sobre o misticismo nas tradições religiosas na sua obra de 1945, “A Filosofia Perene”. Huxley fez amizade com Jiddu Krishnamurti e mantinha, com a sua esposa Maria, grupos de estudo nas noites de terça-feira para discutir meditação, hipnose, percepção extra-sensorial e outros tópicos semelhantes.

Em 1954, o escritor deu uma palestra sobre “Os Longínquos Continentes da Mente” nas Conferências Internacionais de Estudos Parapsicológicos e, alguns anos depois, foi convidado a palestrar na convenção da American Psychoanalytic Association. Em 1955, Huxley ajudou Maria na sua transição para a morte através dos ensinamentos do Livro Tibetano dos Mortos. O seu segundo ensaio sobre uma viagem de mescalina, “Céu e Inferno”, foi lançado em 1956 e argumentou que as experiências não eram “mera religião química”, mas sim comparável aos efeitos fisiológicos do jejum prolongado, como as pessoas na época medieval experimentariam, ou da autoflagelação ou dos cânticos prolongados ou da meditação. O seu trabalho colocou-o na vanguarda de um movimento espiritual e científico fascinado pela consciência. A palavra “psicadélico”, que significa manifestar a mente, foi criada pelo seu amigo, Humphrey Osmond, numa troca de correspondência enquanto exploravam novos termos para alucinógenicos ou psicotomiméticos, em março de 1957.

Aldous Huxley numa entrevista à estação televisiva BBC.

O final dos anos 1950 e o início dos anos 1960 foram uma época em que pessoas como seu amigo Al Hubbard e os psiquiatras Sidney Cohen, Oscar Janigar, A. Wesley Mitford e Arthur Chandler, que formaram o Instituto Psiquiátrico de Beverly Hills com o radiologista Mortimer Hartman (que era o terapeuta psicadélico do ator Cary Grant e muitos outros), eram ativos no campo da investigação e da terapia psicadélica. O escritor teve uma experiência mística completa em contexto de psicoterapia assistida por LSD em 1960, e distinguiu a noção de uma experiência visual de uma experiência mística completa associada a um despertar da consciência. O seu amigo Huston Smith, um académico de religião comparada que cursava no MIT, convidou-o para uma palestra no MIT e, no outono de 1960, Huxley deu uma série de palestras que foram extremamente populares, e foi assim que conheceu Timothy Leary, que assistiu a uma palestra sua no dia 8 de novembro de 1960. Mais tarde Huxley teve acesso a psilocibina em sua casa. O autor apreciou o entusiasmo de Tim Leary, as suas conexões e a sua orientação teórica, e compartilhou o seu objetivo de recrutar intelectuais das áreas da filosofia, literatura, arte e ciência para terem experiências místicas com psicadélicos, mas ficou preocupado por Tim Leary ter criado problemas e desprezado os modelos científicos aceites na altura.

Em 1961, Huxley recuperou o manuscrito para o seu último romance de um incêndio que destruiu a casa que tinha, perto de Hollywood, com a sua segunda esposa, Laura. Descreveu nessa obra, de nome “Ilha”, uma sociedade que equilibrava o corpo e a mente através de um sacramento místico usando a medicina moksha, que tem origem na palavra sânscrita para libertação. Nessa obra, a medicina moksha revelava a verdade e permitia ter vislumbres beatíficos da graça esclarecedora e libertadora e também de outro mundo, ajudando assim a sustentar uma sociedade utópica. Seria um ritual ou sacramento usado como iniciação dos indivíduos nessa sociedade para que pudessem realizar todo o seu potencial, revelando que: “Tu saberás como é ser realmente o que sempre foste. Resta depois decidires se vais cooperar com graciosidade e aproveitar essas oportunidades”.

Aldous Huxley morreu a 22 de novembro de 1963, dia em que John Kennedy foi assassinado, e após receber a seu pedido uma administração de LSD para o ajudar na sua transição. A terceira edição da revista Psychedelic Review de 1964 foi um tributo a Huxley. Uma das suas últimas entrevistas foi publicada em novembro de 1963, na revista Playboy, intitulada “The Pros and Cons: History and Future Possibilities of Vision-Inducing Psychochemicals, A Philosopher’s Visionary Prediction”.

Laura Huxley, no seu livro This Timeless Moment: A Personal View of Aldous Huxley, descreveu como o autor, no final de sua vida, solicitou uma administração de LSD para a última viagem da sua alma. Laura pediu que o escritor lhe dissesse quem ele queria que se juntasse a ele para tomar a substância, e deu-lhe o conselho que todos nós deveríamos seguir. Laura sentiu o alívio por ele ter aceitado a morte e repetiu-lhe: “Leve e livre. Leve e livre deixa-te ir, querido; em frente e para cima. Estás a seguir em frente e para cima; estás a ir na direção da luz. Voluntária e conscientemente segues, voluntária e conscientemente, e estás a fazê-lo lindamente – estás a seguir na direção da luz –segues na direção de um amor maior – em frente e para cima. Tu está a ir na direção do amor da Maria e com o meu amor. Segues na direção de um amor maior do que jamais se conheceu. Estás a seguir em direção ao melhor, ao maior amor, e é fácil, é tão fácil, e estás a fazê-lo lindamente.”

Esperaram horas em silêncio. Laura administrou uma segunda dosagem de 100 microgramas. Quando chegou perto da hora, Laura Huxley continuou: “É fácil, e estás a fazê-lo lindamente e conscientemente, com plena consciência, com plena consciência, querido, segues na direção da luz”. Laura repetiu isto nas últimas três ou quatro horas, e por fim disse: “Fácil, fácil, e fazes de bom grado, consciente e lindamente – seguindo em frente e para cima, leve e livre, em frente e para cima em direção à luz, para a luz, para a luz completa”. Huxley faleceu gentilmente depois, abraçando a luz que todos esperamos compartilhar quando tirarmos “o sapato apertado desta vida” e seguimos em direção a um amor maior do que jamais conhecemos.

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