Muitos são os modelos e ofertas formativas que têm surgido nos últimos anos na área da Psicoterapia Assistida por Psicadélicos (PAP) (ver artigo Procura Formação e Certificação em Terapia Psicadélica?). Consequentemente, as várias escolas de Psicologia e Psicoterapia têm aplicado princípios teóricos e metodológicos à fenomenologia típica dos estados expandidos de consciência, por forma a criar modelos de compreensão, preparação e integração dos conteúdos emergentes destas experiências.
No contexto do seu trabalho com a CYBIN, Alexander Belser e Bill Brennan, psicólogos e psicoterapeutas, desenvolveram um modelo transdiagnóstico e integrativo, o modelo EMBARK, desenvolvido após a análise de vários modelos existentes de PAP que mostraram ser eficazes conjuntamente com terapia com psicadélicos (Tabela 1) e comparando as suas vantagens e limitações (Tabela 2). Estes modelos foram separados em dois grupos, um primeiro chamado de “apoio básico” e um segundo de “terapias validadas empiricamente” que se distinguem pela ausência ou presença, respetivamente, de elementos de terapias não-psicadélicas empiricamente validadas como por exemplo a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ou a Terapia Cognitivo-Comportamental.
Entre as limitações encontradas nos vários modelos de PAP analisados, os autores destacam a pouca atenção às manifestações somáticas (em detrimento dos aspetos cognitivos e emocionais) e aos aspetos relacionais (com um ênfase tipicamente na experiência interior e intrapsíquica) que acontecem durante as sessões com psicadélicos. Destacam também uma insuficiente ênfase em aspetos éticos que devem ser considerados com pacientes e participantes em experiências com estados expandidos de consciência.
Os autores também referem que outra vantagem da aplicação do modelo EMBARK em ensaios clínicos é o ultrapassar do viés de foco em algumas variáveis presentes nos modelos teóricos de base das PAP, ignorando outras. Na perspectiva holística de domínios do EMBARK, toda a fenomenologia emergente da experiência psicadélica é considerada.
Tendo em conta o melhor e as limitações nos vários modelos de PAP analisados, desenvolveram o modelo EMBARK formado por seis domínios (Existential-Spiritual, Mindfulness, Body-Aware, Affective-Cognitive, Relational, Keeping Momentum) que são aplicados consoante a fase de PAP e a especificidade do processo do cliente em causa, abrindo a possibilidade de uma série de estratégias holísticas de intervenção.
- Conteúdos espirituais e místicos que podem trazer uma profunda revisão dos princípios existenciais do individuo (dimensão Existential-Spiritual);
- Experiências que fazem com que o participante se torne mais capaz de reconhecer estados internos e de responder a eles com uma maior capacidade de auto-compaixão e autorregulação (dimensão Mindfulness)
- A consciência somática e os fenómenos corporais (dimensão Body-Aware);
- Experiências de expressão emocional e insights (dimensão Affective-Cognitive);
- Interações que o indivíduo tem com os terapeutas e com o ambiente exterior durante a sessão psicadélica (dimensão Relational);
- A importância do trabalho pós-tratamento e na participação ativa do individuo no seu processo em termos de tarefas a serem implementadas (dimensão Keeping Momentum).
Em vez do foco do modelo ser no tipo de intervenções a propor pelos terapeutas (pouco estruturadas no caso dos modelos de “apoio básico” e demasiado estruturadas no caso das abordagens “validadas empiricamente”), os terapeutas formados neste modelo devem focar-se numa serie de tarefas para cada fase do tratamento (por exemplo, “ajudar o participante a compreender a importância de abordar sentimentos e crenças difíceis na sessão de medicina”) que podem ser completadas através de uma vasta gama de intervenções contempladas nos domínios do modelo.
Relativamente à dimensão ética que os autores afirmam não estar devidamente contemplada nos modelos de PAP, o EMBARK assenta em quatro pilares:
- Cuidados a ter na presença de trauma face ao potencial de aspectos traumáticos emergirem na experiência psicadélica e a necessidade dos terapeutas saberem trabalhar estes conteúdos e estados emocionais;
- Atenção a aspetos culturais e à especificidade do trabalho com clientes de culturas, raça, gênero ou orientações sexuais diferentes do terapeuta;
- Rigor ético no sentido dos aspetos específicos de trabalhar com indivíduos em estado ampliado de consciência e a vulnerabilidade associada;
- Aspetos coletivos reconhecendo que os desafios e sintomas que trazem os indivíduos à PAP nem sempre se resumem a aspetos pessoais e biológicos, mas também coletivos e relacionados com os ambientes em que vivem (discriminação em termos econômicos, culturais, desigualdade de acesso a certos recursos ou falta de suporte comunitário).
O modelo EMBARK está desenhado para ser aplicado às três fases de PAP (preparação, sessões de toma e integração) e apesar de ser uma marca registada da CYBIN Inc. é disponibilizado a qualquer grupo interessado em adotá-lo para os seus ensaios clínicos e investigação e está a ser adaptado a ensaios clínicos para outros quadros psicopatológicos para além daqueles que decorrem na CYBIN. A formação tem a duração de 15 horas num modelo misto de actividades ao vivo e auto-orientadas, preparando os participantes para se tornarem Facilitadores EMBARK Certificados.
Face à sua abrangência, pode também servir de base a uma formação mais aprofundada de terapeutas de PAP. A informação mais detalhada sobre o modelo EMBARK pode ser encontrada gratuitamente neste artigo e todas as informações relativas à formação podem ser encontradas nesta página.