Opinião

Psicadélicos e Pandemia (Público)

Maria Carmo Carvalho é psicóloga e professora na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica do Porto. Com uma carreira dedicada a estudar e discutir o tema do consumo de substâncias psicoativas, é vice-presidente da organização catalã ICEERS e co-fundadora da Associação Kosmicare, tendo coordenado a ação desta organização nas últimas edições do Festival Boom, na área da intervenção na crise relacionada com o uso de substâncias psicoativas, incluindo as psicadélicas. Maria Carvalho foi recentemente entrevistada neste podcast.

Neste longo artigo de opinião, que o Público oferece em duas partes, Maria Carvalho explora o renascimento da ciência e terapia com psicadélicos e a importância de existirem fontes de informação credíveis nesta área – para o público, profissionais e decisores – citando o caso deste website. O contexto para esta reflexão é fornecido pelo seu trabalho na gestão da emergência psicadélica; pela sua experiência pessoal simultaneamente como utente de psicoterapia e formadora de futuros psicólogos e psicoterapeutas; e, finalmente, pela sua análise da situação da saúde mental em Portugal, nomeadamente por referência aos efeitos previsíveis da Covid-19.

(PARTE I)

“Discutir psicadélicos no momento em que lutamos pela sobrevivência, por manter-nos à tona? Desvario mais que certo de alguém fechado em casa há demasiado tempo, dirão. Pois bem, porque é que discutir psicadélicos é uma boa ideia, no geral e agora, em particular?

Há 13 anos comecei a colaborar num serviço de emergência psicológica para utilizadores de psicadélicos (sobretudo MDMA e LSD), num grande festival de música electrónica em Portugal. Durava pouco mais de uma semana cada dois anos, mas bastou para mudar a minha vida. Recebiam-se ali pessoas muito alteradas. Ainda estavam sob o efeito daquelas substâncias, acabadas de usar, e poderiam ficar ao nosso cuidado horas, dias. Os seus sintomas eram variados, mas o mais frequente era a alteração da percepção do mundo e da realidade comuns, e da comunicação com o outro. Estavam assustadas com a força dos efeitos dos químicos sobre o corpo, sobre a mente, sobre os afetos e temiam ficar presas naquele estado terrível. Se tivessem crítica. (…)” CONTINUAR A LER NO PÚBLICO

(PARTE II)

“Com que respostas podemos contar para lidar com os problemas de saúde mental? Aqui, como em toda a intervenção em saúde, promove-se mais e melhor quando se previne. Só que é sempre a prevenção, jamais prioridade, que mais sofre impacto durante a escassez. Então, quando esta está (ainda mais) comprometida, restam as respostas de ação direta sobre o problema, ali à nossa frente, em toda a sua imponência. Em saúde mental, essas respostas resumem-se a dois níveis: psicofarmacologia e assistência direta. Nesta última englobo o acompanhamento por serviços de psicologia, de psiquiatria e de outras especialidades, em centros de saúde, hospitais centrais, projetos comunitários, escolas, IPSS ou serviços privados. Ora, o que as pessoas que precisam mais desejam, é o momento em que têm à frente um profissional capaz e disponível para ouvi-las, por um período de tempo suficiente, e com uma frequência de encontro regular. Alguém que as conheça e que saiba como lidar com o impacto imediato do seu problema e que ajude a aliviar a sua progressão ao longo do tempo. A modalidade mais clássica deste acompanhamento é a psicoterapia. (…)” CONTINUAR A LER NO PÚBLICO

Fonte: Jornal Público
Data: Março de 2021

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