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Claudio Naranjo

Claudio Benjamín Naranjo Cohen (1932 – 2019) foi um homem com muitos talentos: psiquiatra, músico, filósofo brilhante, e um cientista médico com vasto conhecimento em química e um dos principais líderes da abordagem da terapia Gestalt. A sua longa carreira incluiu investigação pioneira com ayahuasca, tendo sido o primeiro a estudar as suas aplicações psicoterapêuticas, e o primeiro a publicar sobre os efeitos da ibogaína. Naranjo foi também um assíduo colaborador de Sasha Shulgin na investigação que suportou os seus famosos livros PiHKAL and TiHKAL. Foi também um académico da Fulbright e bolseiro da Guggenheim tendo sendo mais tarde homenageado com os títulos de rabino e como um iogue da tradição budista tibetana. 

Em setembro de 2014 fez o discurso inaugural da Primeira Conferência Internacional sobre Ayahuasca e mais recentemente discursou na Conferência Mundial de Ayahuasca 2019, em Girona, Espanha. Dedicou a sua vida a trabalhar na promoção da educação com o intuito de despertar a humanidade para uma transcendência do seu passado e presente patriarcal. Claudio Naranjo explicou que a ayahuasca pode ajudar a sociedade a curar-se da repressão do instinto, da auto-rejeição e da culpa imposta pelo domínio intelectual continuado por parte da cultura clássica e da religião ocidental. Afirmou que a ayahuasca pode ajudar-nos a resgatar o nosso amor próprio e a despertar para o autoconhecimento, melhorando os nossos vínculos sociais e com Deus. Naranjo disse que “Nada é mais importante no nosso tempo do que aprender a sermos um pouco mais gentis”. 

Claudio Benjamín Naranjo Cohen

Na década de 60, Claudio Naranjo trabalhou no Instituto Esalen e com Leo Zeff na terapia assistida por LSD e em sessões de terapia de grupo psicadélica. No seu livro de 1974, “The Healing Journey: Pioneering Approaches to Psychedelic Therapy“, ele reporta que com a ajuda do etnobotânico Richard Evans Schultes viajou de canoa até ao rio Amazonas para estudar a ayahuasca com os índios sul-americanos. Naranjo trouxe amostras da bebida e publicou a primeira descrição científica dos efeitos dos seus alcalóides ativos. A sua autobiografia de 2020, “My Psychedelic Explorations: The Healing Power and Transformational Potential of Psychoactive Substances“, inclui as suas reflexões sobre os aspectos espirituais dos psicadélicos e as transformações curativas que eles provocam. Claudio Naranjo defendeu que os psicadélicos agem como agentes de uma consciência mais profunda e partilhou técnicas otimizadas para a indução controlada de estados alterados de consciência com recurso a diferentes substâncias.

No Chile, o seu país natal, Claudio Naranjo realizou investigação clínica, publicada em 1965, com 35 voluntários de Santiago, para comparar os efeitos da mescalina com os da harmalina, um alcalóide da ayahuasca e que existe ainda mais concentrado nas sementes da arruda síria (também conhecida como Harmal, Syrian Rue, ou peganum harmala). Naranjo apresentou a sua investigação na conferência Ethnopharmacologic Search for Psychoactive Drugs em 1967 onde descobriu que a harmalina cria efeitos elétricos na retina, efeito único entre os psicadélicos. A investigação de Naranjo sobre os efeitos da harmalina reforçou descobertas de estudos anteriores já com 30 anos, indicando que a harmalina é um alucinogénio e que é duas vezes mais ativo que a harmina.

Claudio Naranjo descobriu que a harmalina causa um transe sonolento, retração e letargia, e que tem efeitos físicos, como dormência e náusea e às vezes causa tonturas, que apareciam e desapareciam com diferentes pensamentos. Os sujeitos que a tomavam demonstraram pouca vontade para comunicar e também passividade ao movimento. A maioria dos sujeitos ficava deitada emtre 4 a 8 horas. Naranjo participou num painel com Gordon Wasson e expressou a opinião de que a Soma era arruda síria, pois cresceu na Ásia e induz um transe iogue e uma retração quanto ao meio envolvente. Mencionou ainda que as suas sementes são vendidas em bazares na Índia e que ela até cresce em Espanha.

Preparação da bebida ayauhasca

Naranjo descobriu que a harmalina tinha efeitos mais visuais do que a mescalina sendo que, mesmo com os olhos fechados, havia produção de muitas imagens com longas sequências oníricas. As pessoas sentiram vários efeitos num mundo de visões internas, sentimentos e pensamentos internos com profundidade, compreensão e inspiração incomuns. Relataram ainda ter consciência da alma, às vezes experienciando uma separação entre mente e corpo e uma sensação de fuga. Sentiram também um despertar para os processos mentais e uma ativação da fantasia. Alguns sujeitos viam-se como testemunhas desencarnadas de si mesmos numa época e lugar diferentes. Claudio Naranjo observou que alguns voluntários descreveram paisagens e cidades, máscaras, olhos, animais e figuras humanas, anões, anjos e gigantes. Quinze dos trinta e cinco participantes viram imagens religiosas, de contos de fadas ou míticas, algumas das quais se transformariam em animais. Visões de transformação representariam o drama humano de ser e devir, espírito e matéria, liberdade e necessidade, e que os opostos se poderiam fundir e reconciliar, às vezes mesmo depois de experimentar morte e destruição. Sete dos trinta e cinco indivíduos viram gatos grandes, embora nenhum exista no Chile. (Quando mais tarde ele perguntou a Schultes se ele tinha visto jaguares nas suas viagens com ayahuasca, ele respondeu: “Desculpe, apenas linhas sinuosas”). Naranjo afirmou que estas visões revelaram “uma síntese fluida de agressão e graça e uma plena aceitação do impulso de vida além do julgamento moral”. As pessoas tinham visões de serem fundidas com o cenário da vida e alguns dos indivíduos demonstraram uma melhoria acentuada dos seus sintomas neuróticos. 

Claudio Naranjo conduziu também uma investigação com Alexander Shulgin que envolveu metabólitos da glândula pineal que mostrou que o próprio corpo cria substâncias químicas que são alcalóides semelhantes à harmalina através da atividade de uma enzima. Estudou ainda os usos psicoterapêuticos da ibogaína e apresentou os resultados na Conferência de LSD da Universidade da Califórnia em 1967. Com Shulgin, Naranjo estudou o uso de MDA em psicoterapia, uma substância próxima do MDMA. Ele descreveu o MDA como um empatógeno em vez de um alucinogénico, que não manifestava muito conteúdo simbólico, mas evocava uma reminiscência muito dramática e espontânea de eventos da infância que ele achava que poderiam facilitar a psicoterapia aumentando a comunicação pessoal.

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