As profissões de ajuda são regidas por códigos de ética e deontologia que definem uma série de princípios e de boas práticas com o objetivo de promover e potenciar o trabalho entre profissional e cliente. É este tema importante que Kylea Taylor discute em entrevista à página Psychedelic Support. Kylea é uma terapeuta com mais de três décadas de experiência de trabalho com EAC. É a autora do livro “The Ethics of Caring” (publicado em 1995 e reeditado em 2017) e criadora do sistema InnerEthics®.
A relação psicoterapêutica possui particularidades e regras que a distinguem de outras relações profissionais e pessoais. Em Estados Ampliados de Consciência, existem particularidades que precisam ser consideradas no processo de acompanhamento e facilitação destas experiências. O cliente está mais sensível aos estímulos internos e externos, a sua perceção pode estar alterada, e a relação com o(s) terapeuta(s) – por exemplo, processos como os de transferência e contratransferência – está igualmente modificada, o que pode levar a uma maior sugestibilidade às intervenções oferecidas pelo(s) terapeuta(s). Taylor adverte que estes aspetos exigem princípios e atitudes éticas específicas que não são necessariamente ensinados nos modelos psicoterapêuticos convencionais, defendendo a necessidade de formação específica e experiência pessoal e profissional nestes estados.
A autora destaca dois aspetos centrais para uma intervenção terapêutica eticamente informada: autoconsciência do que está a acontecer no facilitador, e simultaneamente estar absolutamente presente e disponível para o cliente, protegendo-o e colocando os seus interesses e necessidades em primeiro lugar. Este duplo foco é difícil de manter, mas é essencial para qualquer intervenção terapêutica, particularmente numa intervenção em que o cliente está num Estado Ampliado de Consciência.
Kylea desenvolveu o modelo InnerEthics®, que consiste em cinco ferramentas que permitem treinar e praticar estas atitudes. Nas suas palavras, “as ferramentas do InnerEthics® proporcionam formas de identificar, reconhecer e trabalhar as motivações pessoais, as situações eticamente sensíveis que podem estar envolvidas na relação terapêutica, o avaliar e ajustar aquilo que é partilhado, o tipo de proteção e intervenção que são necessárias no contexto terapêutico e os conflitos de interesse entre o que queremos e o que o cliente precisa”. Este modelo inclui um componente de intervisão com pares para que todos estes aspetos sejam experiencialmente treinados pelo terapeuta em dilemas éticos partilhados no grupo, numa lógica de não julgamento e aceitação da dificuldade e complexidade que a prática terapêutica contém. Esta entrevista pode ser lida na íntegra na página do Psychedelic Support e mais informações sobre o trabalho da Kylea e formação neste modelo podem ser encontradas na página do InnerEthics®.
Em Portugal, este mesmo tema levou o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida a publicar recentemente o parecer 128/CNEVC/2024 sobre os aspetos éticos da utilização de substâncias psicadélicas na saúde.