Sendo a integração uma parte fundamental da terapia assistida por psicadélicos, a variedade de definições e a multiplicidade de propostas de práticas pode suscitar dúvidas nos facilitadores e utilizadores. Publicado em Agosto de 2022 na Frontiers in Psychology o artigo Psychedelic integration: An analysis of the concept and its practice oferece uma análise sobre o processo que ocorre após experiências psicadélicas focado na integração dos efeitos dessas substâncias para a vida cotidiana. Assinado por Geoff J. Bathje e colegas, o artigo aborda a relevância crescente dessa prática, que visa transformar insights obtidos sob a influência de psicadélicos em mudanças duradouras e benéficas para o indivíduo.
Ao reverem a literatura sobre o tema, os autores encontraram uma grande diversidade de definições, caracterizadas por uma variedade ainda maior de práticas integrativas sem modelos ou orientações sobre o quando e porquê determinadas práticas podem e devem ser escolhidas. Referem ainda que a integração é frequentemente mencionada de forma breve em livros e artigos em comparação com a preparação, a “viagem” ou a facilitação de experiências psicadélicas, apesar de ser amplamente citada como muito importante para reter benefícios destas experiências.
Os autores fizeram uma revisão exaustiva da literatura e recolheram vinte e quatro definições diferentes de integração, propondo uma definição de integração, que inclui os fatores comuns encontrados:
- Um processo em que o indivíduo revisita e se envolve ativamente em dar sentido, trabalhar, traduzir e processar o conteúdo da sua experiência psicadélica. Através do esforço intencional e de práticas de apoio, este processo permite capturar e incorporar gradualmente as lições e perceções emergentes nas suas vidas, com o objetivo de um maior equilíbrio e integridade, tanto internamente (mente, mente, corpo e espírito) como externamente (estilo de vida, relações sociais e o mundo natural).
Relativamente aos modelos de integração, os autores identificaram dez modelos de integração suficientemente elaborados teoricamente, inspirados em várias escolas de psicologia e práticas xamânicas. Ao compararem estes modelos nos seus fatores comuns e contrastantes, os autores propõem um modelo sintetizado de integração que permite aos utilizadores escolherem o(s) modelo(s) de integração que melhor se adapta às suas necessidades e preferências, tendo em conta seis domínios(zona colorida central) e seis dimensões (anel exterior):
O artigo sugere que o processo de integração não é algo imediato, mas gradual, exigindo tempo e esforço para que os benefícios possam ser maximizados. A integração pode incluir uma variedade de práticas, desde cuidados com a saúde mental e física até atividades espirituais, como criar altares e participar de círculos de partilha. Em culturas indígenas, onde o uso de psicadélicos ocorre num contexto comunitário, o processo de integração é menos formal, integrando-se naturalmente na vida e rituais culturais, sem a necessidade de práticas específicas como é o caso nas sociedades ocidentais.
Os autores oferecem ainda no artigo uma tabela com várias práticas organizadas por temas, facilitando assim a escolha por parte de facilitadores e utilizadores da prática que melhor pode servir um determinado momento específico do processo de integração. O artigo pode ser lido na íntegra aqui.