Um estudo recente conduzido pela Oregon Health & Science University reflete sobre o papel controverso da experiência pessoal com psicadélicos na qualificação de facilitadores para supervisão destas práticas. A pesquisa utilizou entrevistas qualitativas com 36 especialistas experientes no uso de psilocibina para avaliar se o consumo pessoal dessas substâncias é essencial na formação de profissionais. Os resultados revelam um consenso entre os especialistas sobre a relevância dessa experiência, apesar de também gerar questionamentos éticos e práticos.
Com o aumento do interesse em terapias assistidas por psicadélicos para tratar diversos quadros psicopatológicos, estados como Oregon e Colorado nos EUA regulamentaram o uso supervisionado de psilocibina. Essas regulamentações exigem formação específica para facilitadores, mas permanecem em silêncio quanto à obrigatoriedade de experiência pessoal com psicadélicos. Paralelamente, práticas indígenas e métodos terapêuticos tradicionais geralmente incluem essa vivência como parte essencial da formação.
Este estudo reuniu 33 especialistas com pelo menos cinco anos de experiência em contextos clínicos, cerimoniais ou indígenas. Foram realizadas entrevistas qualitativas para identificar as melhores práticas e explorar a importância da experiência pessoal com psilocibina. A maioria dos especialistas consideraram a experiência pessoal como essencial, defendendo que esta é fundamental para compreender os efeitos dessas substâncias e assim perceber os aspetos emocionais e psicológicos intensos que podem acontecer durante a experiência. Este conhecimento aumenta a capacidade de preparar e ajudar o participante a lidar com situações desafiadoras. Também foi apontado que essa experiência promove autoconhecimento e desenvolvimento pessoal nos facilitadores, qualificando-os para melhor apoiar outros nos seus processos. Este é o caso da formação em psicoterapia, que tipicamente obriga o candidato a submeter-se a um processo terapêutico na mesma linha teórica. Outro aspeto referido é que a experiência pessoal fortalece a confiança do cliente e o vínculo terapêutico.
Apenas um participante questionou a necessidade da vivência pessoal, comparando-a a outras áreas da saúde mental como a psiquiatria, onde a experiência direta com medicamentos prescritos ou de algumas psicopatologias não é obrigatória. Contudo, este estudo destaca preocupações éticas, como o risco de exigir consumo de substâncias ilegais ou potencialmente perigosas, especialmente para candidatos a facilitadores com condições de saúde que contraindiquem o uso.
O estudo reflete uma divisão neste campo sobre a obrigatoriedade da experiência pessoal como parte da qualificação profissional. Enquanto a maioria dos especialistas considera essa prática essencial, outros argumentam que pode ser antiética ou desnecessária. Os dados de estudos mostram que os clientes tendem a preferir facilitadores com experiência direta, mas a pesquisa adverte que mais estudos são necessários para correlacionar a experiência pessoal a melhores resultados terapêuticos e maior segurança.
A expansão da terapia assistida por psicadélicos nos EUA apresenta uma oportunidade única para avaliar de forma sistemática, o impacto da experiência pessoal de facilitadores nos resultados dos clientes. Essa evidência pode influenciar regulamentações futuras e garantir práticas mais seguras e eficazes.
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