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Carhart-Harris Explica Princípios da Psicoterapia Psicadélica (Webinar)

Nesta apresentação online, intitulada How do psychedelics work?”, o reconhecido neurocientista Robin Carhart-Harris faz um resumo do conhecimento científico actual relativamente aos mecanismos que permitem compreender o papel terapêutico das substâncias psicadélicas clássicas, tendo sido também revista a evidência relativa à psicoterapia-assistida por psilocibina.

Antes de iniciar a apresentação, Carhart-Harris aludiu para a complexidade do tratamento com recurso a substâncias psicadélicas que, segundo o próprio, espelha a complexidade do fenómeno da própria doença mental, pode contribuir para uma maior compaixão e entendimento e servir de guia para novas abordagens terapêuticas.

O investigador inicia a comunicação com uma revisão da ação dos psicadélicos clássicos como agonistas do receptor de serotonina 5-HT2a e sua correlação com a intensidade dos efeitos subjetivos. A etimologia da palavra ‘psicadélico’ também foi alvo de reflexão e, segundo a opinião de Carhart-Harris, existe a necessidade de incorporar na definição científica atual a componente subjetiva patente na etimologia (psyche= alma/ mente + delos= manifestar).

Os efeitos que as substâncias psicadélicas exercem, para além da sua ação como agonista do receptor de serotonina, foram abordadas de forma aprofundada com enfâse no conceito de plasticidade e os seus diversos marcadores no cérebro, na mente e no comportamento. Destacando alguns dos mecanismos da psicoterapia assistida por psicadélicos, o investigador abordou o conceito de canalização, um novo modelo que advém da acção transdiagnóstica da intervenção terapêutica com psicadélicos e que propõe um possível factor comum na psicopatologia, definido como sendo o oposto à plasticidade, ou seja, uma resistência à mudança.

Ainda no que diz respeito a mecanismos, o princípio do cérebro entrópico – quando a atividade cerebral se torna mais livre e “caótica” sob o efeito de psicadélicos clássicos e ketamina – e o modelo REBUS (Relaxed Beliefs Under Psychedelic) – que traduz uma diminuição da precisão dos modelos do mundo fenomenológico previsto pelo cérebro – foram explorados tendo em conta os seus efeitos terapêuticos.

A maior interconetividade neuronal é um efeito central das substâncias psicadélicas, que resulta numa experiência subjectiva de substancial relevância terapêutica

Já no que diz respeito à psicoterapia assistida por psilocibina, Robin Carhart-Harris apresentou alguns dos pontos chaves da intervenção, destacando a importância da manipulação positiva que é feita ao contexto terapêutico e como é a influência conjunto do contexto e da substância psicadélica que resulta nos efeitos terapêuticos até agora conhecidos.

O investigador apresentou ainda os resultados relativos ao impacto das expectativas sobre o tratamento medido no ensaio clínico que comparou psicoterapia assistida por psilocibina com o antidepressivo escitalopram. Os participantes foram questionados sobre as suas expectativas para ambas as opções de tratamento e os dados mostraram que as expectativas dos participantes não prediziam a resposta à terapia assistida por psilocibina, o que, segundo o investigador, indica que a resposta a esta terapia não é um efeito placebo.

Por fim, o investigador respondeu às seguintes questões:

  • Diferença entre ter e não ter uma intenção antes de iniciar terapia assistida por psicadélicos.
  • Importância da experiência mística no processo de cura.
  • Idade mínima em que é seguro iniciar psicoterapia assistida por psicadélicos.
  • Necessidade de descontinuar medicação antes de iniciar psicoterapia assistida por psicadélicos.
  • Psicadélicos sem efeitos subjetivos.
  • Relação entre capacidade de se render à experiência e os resultados terapêuticos.
  • Investigação realizada na doença de Parkinson.
  • A relevância do Default Mode Network.
  • Psicoterapia assistida por psicadélicos como tratamento de primeira linha.

De destacar, não só a reduzida ênfase colocada na importância da default mode network para os efeitos da psicoterapia assistida por psicadélicos e uma maior importância relativa atribuída à experiência subjectiva. Quando questionado se existe validade na teoria de uma ação terapêutica sem a experiência subjetiva, o investigador refere ter dificuldade em compreender a lógica dessa teoria e destaca um possível conflito de interesses, uma vez que encaixa no modelo médico actual. Suporta ainda o seu cepticismo com o facto de não existir, em humanos, evidência de benefício de um tratamento sem os efeitos subectivos e pelo facto de a investigação até agora realizada, ter sido com modelos animais.

O investigador vê ainda a psicoterapia assistida por psicadélicos como uma mudança de paradigma, no sentido em que combina a acção farmacológica da substância com intervenção psicológica, referindo:

Psychedelic therapy (…) is not more of the same. It’s about a treatment that opens people up and combines it with psychological interventions, psychological support, and it’s intrinsically more holistic, and I think truer to the problem at the first place, which is arguably a biopsychosocial problem, it’s not just biology gone wrong. Is biology going wrong in a complex context. And if that is appreciated, you then realize: well maybe the solution needs to be biopsychosocial as well.”

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