NOTA: O texto deste artigo faz parte do conteúdo complementar do livro “Psicadélicos: Em Português”. Algumas passagens complementares à versão impressa do livro serão assim disponibilizadas aqui no website SafeJourney ao longo dos próximos meses.
Os mais clássicos dos “clássicos”: o LSD e a psilocibina / psilocina
O LSD (ou LSD-25, ou ácido lisérgico, ou dietilemida de ácido lisérgico) é o psicadélico mais conhecido e o mais simbólico do impacto que os psicadélicos tiveram na sociedade do século XX. Embora seja difícil de estimar, estará entre as duas substâncias psicadélica mais consumidas, a par do MDMA, considerando contextos informais ou recreativos e contextos controlados, como em terapia ou investigação. É tipicamente ingerido no formato de pequenos “selos” (papelinhos com recortes semelhantes a selos do correio) impregnados da substância química, ou em gotas de um líquido com o LSD diluído. Tem a singularidade de ser bioativo em quantidades minúsculas: uma dose comum contém entre 75 e 150 microgramas (0,0001 e 0,0025 gramas).
A “viagem” com LSD pode durar entre 8 a 12 horas no total, com um pico a acontecer aproximadamente após 4 horas da ingestão, sendo a mais longa dos psicadélicos clássicos. Sendo quimicamente uma lisergamida tem, tal como as triptaminas (e.g. psilocibina e DMT), uma estrutura química semelhante ao neurotransmissor serotonina e mimetiza a sua ação no cérebro, ligando-se a vários recetores de serotonina. Contudo, ao contrário da serotonina, permanece ligado ao recetor várias horas, o que altera drasticamente o seu efeito (por comparação com a serotonina). A molécula de LSD não se encontra como tal na natureza, embora tenha sido sintetizada em 1938 na sequência do isolamento de uma molécula (ergotamina) oriunda de um fungo presente em alguns cereais.

Figura 1. Estrutura química dos psicadélicos clássicos e da serotonina
A psilocibina e a psilocina – uma molécula derivada da metabolização da psilocibina e que é o composto ativo no cérebro – estão naturalmente presentes em alguns cogumelos psilocybe, sendo o mais comum o psilocybe cubensis. Estão também presentes nas chamadas “trufas mágicas”, disponíveis sobretudo nos Países Baixos (onde o seu uso e comércio são legais), que são uma pequena massa orgânica do fungo, chamada esclerócio, que cresce e se mantém debaixo do solo. Tanto os cogumelos como as trufas são habitualmente mastigados e ingeridos para se obter o seu efeito, seja de forma isolada ou misturados com outros alimentos (chocolates contendo cogumelos desidratados e moídos são uma forma bastante popular). Podem também ingeridos sob a forma de chá, depois da respetiva ebulição.
Uma dose comum de cogumelos mágicos desidratados situa-se entre as 1,5 a 3 gramas (aproximadamente 10 a 23 mg de psiolocibina sintética). A conversão para as trufas, que não são desidratadas, é de 1 para 10, pelo que uma dose de entrada de trufas será 15g. Para a mesma quantidade relativa de psilocibina, os efeitos dos cogumelos e das trufas são idênticos, embora a maior massa (maior quantidade) de trufas possa, para algumas pessoas, ser mais indigesta.
A experiência psicadélica após o consumo de uma fonte de psilocibina é muito comparável à experiência com LSD, à exceção da duração. Como a psilocina não fica tanto tempo ligada aos recetores no neurónio aferente como o LSD, a “viagem” com psilocibina / psilocina é mais curta, durando entre 6 a 8 horas, com um pico de intensidade que dura cerca de 2 horas. Devido à sua duração, mais curta e por isso mais fácil de usar em contextos de investigação, e também pela designação não conter a carga social negativa associada à palavra “LSD”[1], a psilocibina passou a ser a substância psicadélica mais investigada a partir da viragem do século, ocupando hoje a primeira posição nesse ranking.
Os perfis de segurança do LSD e da psilocibina são comparáveis e bastante positivos. Os principais efeitos negativos reportados por utilizadores são o enjoo e indisposição gástrica, e as dores cabeça, que tendem a ser transitórios. Não existe risco de adição, a toxicidade é muito baixa, não havendo casos de sobredosagem (overdose) reportados. Contudo, existem casos de quedas, traumatismos e outros acidentes, alguns com gravidade, associados à confusão mental, alterações na perceção, e perda de controlo motor que podem acontecer durante uma viagem psicadélica, sobretudo com uma dose elevada.
Embora os cogumelos mágicos e o LSD estejam colocadas entre as substâncias psicoativas mais seguras, é possível que uma experiência psicadélica particularmente intensa, com estes (ou quaisquer outros) psicadélicos, possa causar instabilidade psicológica subsequente ou mesmo problemas como dissociação ou despersonalização (p.ex., confusão sobre quem somos e sensação de separação do corpo, ou dúvida se a realidade vivida é real ou imaginária). A duração destes episódios é tipicamente curta, mas existem alguns casos reportados em que pode perdurar e resistir a formas de tratamento. Acredita-se que seguir as boas práticas (indicadas no livro), bem com uma avaliação prévia e filtragem de pessoas com doença mental do foro psicótico (e.g. esquizofrenia) ou em fase de grande instabilidade psicológica possa reduzir ainda mais a já baixa probabilidade de efeitos negativos deste tipo.
Um estudo que avaliou a prevalência de experiências negativas numa amostra representativa dos EUA de utilizadores de LSD e psilocibina (na sua maioria) revelou que 4,6% dos participantes tiveram experiências negativas regularmente. Contudo, os fatores associados à severidade destas experiências – uso de medicação concomitante (e.g. lítio), falta de preparação, mau contexto físico, estado mental negativo, falta de apoio psicológico, dose demasiado alta, e um evento de vida marcante antes da experiência – são todos facilmente evitáveis com o conhecimento e aplicação de boas práticas.
O mais original: a ketamina (ou cetamina)
A ketamina, sintetizada inicialmente em 1962, emergiu rapidamente como um anestésico utilizado de forma generalizada tanto em humanos quanto em animais. A sua trajetória é marcada pela aplicação em contextos médicos e cirúrgicos, mas também ganhou popularidade em ambientes recreativos devido aos seus distintos efeitos psicoativos, do tipo psicadélico, especialmente quando administrada em doses sub-anestésicas. Em condições de vida real é tipicamente consumida em forma de cristais granulados finos (pó) por via nasal, e provoca efeitos rápidos, atingindo seu pico entre 15 a 45 minutos, com uma duração total aproximada de 60 a 90 minutos.
Em doses reduzidas, pode provocar uma sensação de leveza e distanciamento do ambiente circundante, ao passo que dosagens demasiado elevadas podem induzir a um estado conhecido como “K-hole”, caracterizado por uma dissociação intensa e experiências fora do corpo. Entre estas dosagens, encontra-se a chamada “dose psicadélica”, a qual pode gerar uma viagem psicadélica comparável à dos psicadélicos tradicionais, particularmente quanto acontece em ambientes tranquilos e onde a atenção do utilizador está focada na sua experiência interna. Neste contexto, a ketamina é administrada por via intramuscular ou intravenosa e tem sido utilizada no tratamento de condições como depressão, ansiedade e alcoolismo, num número crescente de clínicas e hospitais, inclusive em Portugal. Existem ainda formulações em spray nasal (e.g. no medicamento esketamina), aprovadas para o tratamento da depressão, mas que geralmente não produzem efeitos psicadélicos.
A ketamina destaca-se no panorama dos psicadélicos por ser o único autorizado legalmente para uso médico (como anestésico), embora seja usado off-label para outras condições; e por induzir experiências psicadélicas, pese embora sua ação cerebral principal não seja mediada pelos recetores e sistema da serotonina mas sim através dos recetores NMDA e do sistema do glutamato.
Do ponto de vista da segurança, a ketamina é considerada bastante segura quando utilizada em contextos médicos. Em contextos informais, a segurança física é considerada elevada mas depende do contexto, padrão de uso e dosagens. Devido ao potencial de dissociação e sedação, o risco de acidentes (e.g. queda ou afogamento) aumenta em contextos menos controlados. Embora não seja uma consequência comum, a ketamina tem a capacidade de gerar dependência quando é usada com muita regularidade (e.g. vários dias por semana) e também causa tolerância, levando a um consumo de doses progressivamente mais elevada. Por estas razões, o potencial para abuso da ketamina é considerado mais elevado do que o dos psicadélicos clássicos. O seu uso pode ser especialmente perigoso se combinado com álcool ou outras substâncias depressoras do sistema nervoso central. O SafeJourney publicou um artigo recentemente sobre o uso recreativo desta substância e outro sobre onde se pode aceder a psicoterapia assistidas por Ketamina em Portugal.
Os mais eufóricos (e amorosos): o MDMA e o 2C-B
O MDMA, também conhecido como ‘ecstasy’, é uma das substâncias psicoativas mais populares e mais usadas no mundo, tendo sido sintetizada pela primeira vez em 1912 pela empresa farmacêutica Merck. A sua utilização generalizou-se nos anos 80, associada a festas e espaços de recreação noturna. Desde então, o seu consumo recreativo foi crescendo. Paralelamente, o seu uso como coadjuvante no tratamento psicoterapêutico de perturbação de stress pós-traumático está em processo de aprovação por agências que regulam o uso de medicamentos (nota: na Austrália isso já acontece, como se explica no livro). Em agosto de 2024, a FDA recusou um primeiro pedido de aprovação por parte da empresa Lykos Therapeutics (previamente designada MAPS Public Benefit Corporation) requerendo mais dados provenientes de ensaios clínicos.
O MDMA é frequentemente consumido na forma de comprimidos (“pastilhas”), embora também possa ser usado em pó ou cristal. Os comprimidos podem variar substancialmente em termos de pureza e concentração da substância, enquanto nos casos do cristal a contaminação é mais rara e é o utilizador escolhe a quantidade, a olho ou usando uma balança de precisão. Neste último caso (pó / cristal), o MDMA pode ser consumido diretamente (e.g. dentro de uma cápsula de gel ou de um pedaço de papel), ou diluído num líquido.
Os efeitos do MDMA são predominantemente eufóricos e “empatogénicos”, promovendo uma sensação de bem-estar, e de proximidade emocional e empatia pelo outro. Estes efeitos resultam da libertação aumentada de serotonina, dopamina e noradrenalina no cérebro. Por comparação com a toma de um psicadélico clássico em doses normais ou elevadas, a experiência com MDMA não causa alterações notáveis na cognição, perceção, no controlo motor, ou na capacidade de falar ou de realizar tarefas comuns. Dado ser um estimulante, as capacidades mentais podem até estar aumentadas, com o utilizador a revelar uma clareza e velocidade de raciocínio acima do normal.
Geralmente, os efeitos começam 30-45 minutos após a ingestão e podem durar cerca de 3-4 horas (com o pico pelas 2h00-2h30). Durante este tempo, os utilizadores podem sentir um aumento da energia, alterações sensoriais e intensificação do prazer físico, a par da diminuição de receios e inibições (resultado da redução da ação da amígdala no cérebro). Dependendo da dose, a euforia – por exemplo, manifestada na vontade de comunicar ou de realizar movimento físico – pode ser difícil de gerir ou conter para algumas pessoas. Pelo contrário, embora mais raramente, emoções fortes eliciadas pelo MDMA podem levar algumas pessoas a sentirem-se muito vulneráveis e com necessidade (ou vontade) de se isolarem, pelo menos temporariamente, podendo até ser necessário amparo e apoio por parte de terceiros.
Tal como o MDMA, o 2C-B é um membro da família das feniletilaminas e foi sintetizado pela primeira vez pelo famoso químico Alexander Shulgin nos anos 70, numa tentativa de encontrar um substituto do MDMA com menor impacto neurofisiológico. Este composto ganhou notoriedade mais tarde que o MDMA, emergindo apenas nos anos 90. Normalmente é consumido na forma de comprimidos ou pó e, ocasionalmente, em solução líquida.
Os efeitos reportados do 2C-B são, curiosamente, uma combinação de efeitos psicadélicos e estimulantes / empatogénios. A substância é conhecida por induzir alterações visuais, intensificação das emoções e da perceção sensorial, e euforia. Contudo, o 2C-B não tende a provocar o mesmo nível de empatia ou conexão emocional quando comparado com o MDMA. A duração dos seus efeitos varia de 4 a 6 horas, dependendo da dose e da sensibilidade individual.
Em termos de segurança, o 2C-B é geralmente considerado menos tóxico fisicamente do que muitas outras substâncias recreativas quando usada em doses normais (menos que 25mg). É considerada uma substância relativamente “leve” (por exemplo, tende a não afetar o sono, o que não acontece com o MDMA). No entanto, o 2C-B é menos estudado do que o MDMA ou outros psicadélicos mais usados, pelo que o conhecimento sobre seus efeitos a longo prazo é limitado. A investigação sobre o 2C-B parece estar a aumentar pelo que em breve será possível conhecer melhor os seus efeitos. O SafeJourney publicou anteriormente um artigo de revisão sobre o perfil de segurança do MDMA.
Os mais arrebatadores: o DMT e a ayahuasca
O DMT (N,N-Dimetiltriptamina) é uma substância psicadélica poderosa que também faz parte da família das triptaminas, como o LSD e psilocibina. Foi sintetizada pela primeira vez em 1931, mas a sua utilização em práticas tradicionais é muito mais antiga. Naturalmente presente em várias plantas e também no organismo humano, o DMT ganhou popularidade no mundo ocidental nas últimas décadas, tanto em contextos de investigação como de uso em situação de vida real.
A forma mais comum de uso do DMT puro é através da inalação do vapor produzido ao queimar o cristal. Quando inalado, o DMT induz rapidamente (em alguns segundos) um estado alterado de consciência, caracterizado por intensas experiências visuais e auditivas, e um conjunto de outras sensações difíceis de descrever ou sintetizar, mas por vezes descritas como contactos com entidades ou com realidades de uma outra dimensão. O seu efeito dura tipicamente entre 5 a 15 minutos mas, em contexto laboratorial, já começou a ser administrada de forma contínua, por via intravenosa, aumentando assim a duração da experiência.
A ayahuasca é uma bebida tradicional da Amazónia, feita a partir da combinação de plantas que contêm DMT, como a Psychotria viridis, e outras que contêm inibidores da monoamina oxidase (IMAO), como a videira Banisteriopsis caapi. Esta combinação permite que o DMT seja oralmente ativo, pois os IMAOs inibem a enzima responsável pela sua degradação no trato gastrointestinal. A ayahuasca é utilizada em várias práticas e rituais indígenas na América do Sul, principalmente em contextos espirituais e de “cura”. No século passado passou a ser usada como sacramento em algumas igrejas em contextos citadinos, no Brasil[2]. Nos últimos 5-10 anos, o seu uso expandiu-se globalmente, atraindo interesse pelas potenciais propriedades terapêuticas, espirituais e de exploração da consciência.
Uma sessão de ayahuasca dura tipicamente entre 4 a 6 horas, e é frequentemente acompanhada de efeitos físicos, como náuseas e vómitos, considerados por muitos facilitadores e utilizadores como uma “purga”, algo útil ao processo de “limpeza” e cura. Por outro lado, alguns utilizadores de psicadélicos recusam participar em cerimónias de ayahuasca precisamente pelo desagrado que sentem face a esta parte do processo.
Os efeitos do DMT e da ayahuasca são profundamente psicadélicos, mas a natureza da experiência varia substancialmente entre os dois. Enquanto o DMT inalado provoca uma experiência breve e intensamente visual, a viagem com ayahuasca é mais longa e frequentemente introspetiva, com insights emocionais e psicológicos. Dada a semelhança entre os respetivos compostos psicoativos é provável que, na ausência de impacto gastrointestinal (que tende a ser transitório) e sem a componente cultural e cerimonial associada, a experiência psicológica da toma de ayahuasca fosse muito comparável com as experiências com cogumelos mágicos e LSD.
Em termos de segurança, o DMT é considerado física e psicologicamente intenso, mas como tendo baixa toxicidade. Os riscos associados ao seu uso estão mais relacionados com a intensidade da experiência, que pode ser psicologicamente perturbadora, especialmente em contextos não seguros ou sem preparação adequada. A ayahuasca, por conter IMAOs, requer cuidados especiais, pois interage negativamente com algumas substâncias, incluindo certos medicamentos e alimentos, podendo levar a complicações sérias de saúde.
O “primeiro psicadélico”: a mescalina
A mescalina, uma substância presente nos catos Peiote (ou Peyote, originalmente designado como Hikuri) e São Pedro (ou San Pedro, originalmente designado como Huachuma), foi o primeiro psicadélico a ser comercializado e consumido de forma generalizada no ocidente, a partir do início do século XX. Aldous Huxley, um reconhecido escritor e filósofo inglês, descreveu as suas experiências com este psicadélico no livro as “Portas da Perceção”, em 1954. Progressivamente, a mescalina foi preterida no uso popular, e também na investigação científica, em favor de outras substâncias, nomeadamente o LSD e a psilocibina.
O uso da mescalina é diversificado, abrangendo contextos tradicionais e modernos. Historicamente, tem sido usada em rituais espirituais e cerimónias por povos indígenas americanos, como parte de práticas culturais e religiosas. O exemplo mais conhecido é a Native American Church, autorizada pelo governo dos EUA a utilizar esta substância nos seus ritos (por via de leis de liberdade religiosa), ainda que ela seja proibida a nível federal nos EUA. Em contextos modernos, a mescalina é utilizada tanto recreativamente como em explorações pessoais e psicoterapêuticas, embora o seu uso terapêutico seja menos comum do que o de substâncias como o LSD ou os cogumelos mágicos. Em ambientes informais, os utilizadores frequentemente procuram experiências percetivas e psicológicas intensas, muitas vezes na Natureza e incluindo movimento físico.
A mescalina atua no cérebro de forma semelhante a outros psicadélicos clássicos. Os efeitos incluem também alterações visuais (em padrões geométricos, cores intensificadas e visões), além de alterações no pensamento, na perceção do tempo, e vários outros efeitos psicadélicos. A mescalina também pode induzir estados de introspeção profunda, euforia e experiências místicas ou espirituais. O início dos efeitos ocorre geralmente 1 a 2 horas após a ingestão, com a duração total da experiência variando de 10 a 12 horas. A mescalina é considerada segura em termos de toxicidade física. No entanto, como todos os psicadélicos, apresenta riscos relacionados com os seus efeitos psicológicos.
Os mais atípicos: ibogaína, 5-Meo-DMT
A ibogaína é extraída da raiz da planta iboga, nativa da África Central e Ocidental, onde é usada em rituais tradicionais e cerimónias de iniciação. A substância ganhou atenção no ocidente principalmente pelo seu potencial no tratamento da dependência de substâncias, embora o seu uso clínico ainda não seja amplamente aceite ou regulamentado[3]. A ibogaína é normalmente consumida na forma de cápsulas ou como um pó extraído diretamente da raiz da planta.
Os efeitos da ibogaína são complexos e podem variar significativamente entre indivíduos. Tipicamente, a experiência envolve uma fase psicadélica intensa, que pode incluir visões vívidas e uma profunda introspeção psicológica, seguida por um período de reflexão e reavaliação de experiências passadas. Este estado pode durar várias horas ou até mesmo dias, dependendo da dose e da sensibilidade individual.
A ibogaína é particularmente notável pela sua capacidade de reduzir os sintomas de abstinência e o desejo de consumir em pessoas dependentes de opiáceos, estimulantes e outras drogas. No entanto, o seu perfil de segurança é uma preocupação significativa. A ibogaína pode ser cardiotóxica e tem sido associada a vários casos de complicações graves, incluindo mortes, particularmente quando usada sem supervisão médica adequada ou em combinação com outras substâncias.
O 5-MeO-DMT, por outro lado, é um potente psicadélico da família das triptaminas encontrado naturalmente em algumas espécies de plantas e no veneno do sapo Bufo alvarius. O composto é geralmente fumado ou vaporizado e os seus efeitos são de curta duração mas extremamente intensos. A experiência com 5-MeO-DMT é frequentemente descrita como uma dissolução do ego e uma sensação de união com o universo e pode ser acompanhada de uma profunda sensação de paz e transcendência. Relatos de um “apagão branco” (white out, em inglês) desprovido de conteúdo e semelhante a um desmaio não são raros. A duração total dos efeitos varia de 15 a 30 minutos e, à semelhança do DMT, o regresso a um estado de vigília e funcionalidade próximo do normal demora apenas alguns minutos.
Em termos de segurança, o 5-MeO-DMT é considerado fisicamente seguro em doses apropriadas, mas, como com outros psicadélicos potentes, os riscos são predominantemente psicológicos. Pode ser extremamente perturbador e desorientador, principalmente se usado sem orientação ou num ambiente inseguro. É crucial ter uma preparação cuidadosa e apoio constante durante a experiência.
Embora com perfis muito diferentes, tanto a ibogaína quanto o 5-MeO-DMT despertam atualmente um interesse crescente por parte de investigadores interessados em desenvolver novas aplicações terapêuticas. No caso do 5-Meo-DMT, e à semelhança do DMT, o facto de eliciar experiências de curta duração pode revelar-se especialmente eficiente e útil em futuros protocolos de tratamento com psicadélicos.
[1] O LDS é vulgarmente conhecido como “ácido”, o que não invoca boas associações em pessoas menos familiarizadas.
[2] As igrejas mais importantes que usam ayahuasca são a Barquinha, a União do Vegetal (UDV) e o Santo Daime, estas últimas com presença em Portugal.
[3] Em Portugal, a ibogaína não se encontra na lista de substâncias controladas e existem serviços disponíveis ao público para tratamentos que incluem sessões com esta substância, sob supervisão médica.