Boas Práticas

Avaliação da Neurotoxicidade do MDMA e Recomendações para a Mitigar

O risco para a saúde do uso de MDMA é um tema situado simultaneamente entre os mais relevantes para a comunidade de utilizadores de substâncias, e os menos esclarecidos do ponto de vista científico. Numa altura em que se verifica um maior interesse (e presumível crescente uso) de psicadélicos e empatogénicos (como o MDMA e outras substâncias análogas, da classe das fenilatilaminas), uma correta avaliação dos riscos, e das estratégias para os mitigar, são claramente uma prioridade. Este artigo do website Psychedelic.Support pretende contribuir para esta agenda.

Porquanto a ênfase do artigo seja no benefício da toma de suplementos antioxidantes para limitar o potencial neurotóxico do MDMA, a autora, uma especialista em medicina alternativa naturopática, faz também uma breve revisão do tema da neurotoxicidade do MDMA e de outros fatores e estratégias associadas ao maior ou menor risco, como o consumo paralelo de outras substâncias ou estados de saúde com o potencial de aumentar o stress oxidativo, ou o uso de outros suplementos, como o popular 5-HTP.

Resulta da leitura deste artigo, e da consulta das fontes citadas, em paralelo com outra evidência recente, que existe ainda um considerável desconhecimento científico do real potencial neurotóxico do MDMA, das condições em que pode acontecer, mecanismos envolvidos, efeitos no cérebro, e respetiva reversibilidade. Um exemplo disto é a grande prevalência de estudos com modelos animais (ratinhos) usada como fonte do artigo. Um outro exemplo pode ser depreendido da seguinte citação, na secção de conclusão de uma das mais importantes revisões citadas no artigo da Psychedelic.Support (focada apenas em estudos com neuroimagem do cérebro):

“Não encontramos evidências de alterações na circulação sanguínea (CBF) nos gânglios da base e em marcadores neuroquímicos nos lobos occipital e frontal. A densidade dos transportadores e recetores de serotonina (SERT) foi encontrada diminuída em várias regiões. Surpreendentemente, a meta-regressão não indicou nenhuma associação entre essas alterações e episódios de uso de MDMA ao longo da vida. Consequentemente, outros fatores – como as doses tomadas por ocasião – podem ser determinantes mais importantes. Também é possível que as reduções na densidade dos SERT estejam relacionadas com outros fatores além do MDMA.”

Esta revisão, publicada em 2019, destaca ainda o facto da investigação com esta substância se ter até hoje concentrado maioritariamente em pessoas com padrões de uso muito elevado e possivelmente não representativo de muitos utilizadores atuais. Um bom exemplo é este estudo sobre memória verbal declarativa e que comparou 19 utilizadores de MDMA com 19 não utilizadores. O primeiro grupo declarou um consumo médio de 2 pastilhas de MDMA por semana, 457 doses tomadas nos últimos 3 anos e meio, para além de um consumo de canábis semelhante em dose e duração.

Prima na imagem para aceder ao artigo integral.

Outras revisões da literatura (algumas das quais muito recentes) focadas em outros aspetos como o risco de suicídio em adolescentes e adultos, a sociabilidade, e o funcionamento / dano cognitivo associados ao uso de MDMA são também largamente inconclusivas quanto a eventuais padrões de risco, sugerindo que os fatores confundidores são tão ou mais importantes nesta avaliação e levantando até, em alguns casos, a possibilidade de benefícios do uso de MDMA.

De regresso ao artigo da Psychedelic.Support, este fornece ao leitor uma visão equilibrada e focada na prevenção e na adoção de uma atitude prudente no uso de MDMA (plenamente justificável enquanto a evidência disponível não é mais conclusiva), oferecendo várias estratégicas fáceis de implementar, incluindo a recomendação central: a toma concomitante de suplementos antioxidantes. A autora faz outras recomendações, quanto à temporalidade na suplementação com 5-HTP e quanto ao melhor protocolo de hidratação, que podem surpreender muitos atuais utilizadores. Aborda também eventuais diferenças entre homens e mulheres quanto ao potencial neurotóxico do MDMA.

A respeito de uma atitude prudente pelo utilizador, existe atualmente um relativo consenso quanto a utilidade dos seguintes comportamentos, independentemente da intenção presente com a toma de MDMA (“recreativa” ou outra): 

  • testar as substâncias e garantir o uso de MDMA não-adulterado e de concentração conhecida (nota: na ausência de “drug testing”, as pastilhas parecem ter um perfil de segurança pior do que os cristais de MDMA); 
  • evitar doses excessivas numa só sessão (não mais de 150-200 mg);
  • espaçar as tomas no tempo (nota 1: não é claro qual o intervalo seguro mas vários especialistas sugerem várias semanas, ou mesmo meses, entre tomas; nota 2: a quantidade de MDMA por toma parece ser um fator mais importante do que a frequência e duração das tomas ao longo da vida); 
  • evitar a toma concomitante de outras substâncias, sobretudo as que aumentem o stress oxidativo (como o álcool); 
  • evitar o sobreaquecimento corporal e a desidratação (nota: mais do que beber água, importa arrefecer o corpo com descanso e exposição a ambientes frescos e secos); 
  • adotar uma dieta (ou usar suplementação) rica em antioxidantes no dia da toma;
  • garantir o descanso e uma boa qualidade do sono nos dias após a toma, nomeadamente se esta foi prolongada e cansativa.

Para informações adicionais sobre o uso seguro de MDMA, é recomendada a consulta de vários artigos no jornal Público, da autoria de Daniel Martins, da Kosmicare – associação onde, em Lisboa, é também possível testar substâncias químicas.

Categorias de dosagens de MDMA, segundo o website PsychonautWiki

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