Os tratamentos para condições de saúde mental envolvendo substâncias psicadélicas têm recebido bastante atenção por parte da comunidade científica, já tendo sido realizados vários estudos com intervenção recorrendo à psicoterapia assistida por substâncias psicadélicas (ver artigo Safe Journey). Os mecanismos que podem contribuir para a ação terapêutica que tem sido demonstrada continuam ainda por compreender em profundidade. Os relatos dos participantes relativamente às suas experiências de tratamento podem ajudar a elucidar o “como” nesta relação entre substâncias psicadélicas e saúde mental.
Uma revisão da autoria de Breeksema et al., oriundos de várias universidades nos Países Baixos, procurou sintetizar a evidência produzida até agora, a partir de estudos que avaliaram a experiência dos participantes em ensaios clínicos através de métodos qualitativos, tais como entrevistas. Os autores analisaram dados relativos a 15 estudos, num total de 178 pacientes, que receberam terapia assistida por psicadélicos (ayahuasca, ibogaína, ketamina, LSD, MDMA e psilocibina) para várias condições de saúde mental como a ansiedade relacionada com o fim de vida, depressão, doença do foro alimentar, stress pós-traumático e o abuso de substâncias.
Da análise efetuada, os mecanismos terapêuticos mais vezes identificados pelos pacientes foram:
– Melhor entendimento (insight) e mudanças de perspetivas sobre o “eu”,
– Aumento dos sentimentos de conexão (connectedness),
– Ocorrência de experiências místicas,
– Espectro emocional expandido.
(Nota: alguns destes mecanismos podem sobrepor-se, indicando uma atuação conjunta na produção dos benefícios terapêuticos.)
A identificação de temas transversais a condições de saúde mental e substâncias usadas indicam que as substâncias psicadélicas no geral podem induzir estados de consciência com valor para os pacientes e os seus processos terapêuticos. Os autores salientam a importância de melhor compreender as experiências dos pacientes – isto é, a sua fenomenologia – uma vez que permitirá aceder aos processos e mecanismos terapêuticos, mas também os fatores extra-farmacológicos, contribuindo assim para uma otimização dos contextos de tratamento e uma melhoria das respostas clínicas e benefícios pessoais obtidos.
Tal como assinalado pelos autores, esta revisão apresenta limitações relacionadas com a impossibilidade de comparação entre os estudos devido à elevada heterogeneidade de metodologias utilizadas, e o facto de os pacientes não serem representativos da população geral estudada.