Nos últimos anos, o aumento do uso naturalístico de psicadélicos tem trazido um novo foco para a investigação e divulgação de boas práticas, no sentido de garantir a segurança de quem utiliza estas substâncias e maximizar os seus potenciais benefícios.
Embora apresentem um perfil de segurança fisiológica favorável — sobretudo os psicadélicos clássicos, como o LSD e os cogumelos mágicos (psilocibina) —, o seu uso acarreta riscos psicológicos que não devem ser ignorados. Por isso, é essencial estar informado e preparado, cultivando práticas que permitam expandir a consciência de forma segura e intencional.

Um estudo recente conduzido por investigadores australianos, identificou um conjunto de boas práticas para utilizadores de psicadélicos, organizadas em três momentos principais: preparação, experiência e integração.
Durante a preparação destacam-se:
- Obter informação e conhecimento sobre a substância em causa, dosagem e as condições ideais de uso.
- Cultivar um estado mental (mindset) adequado, através da meditação, definição de intenções e escolha de um momento emocionalmente estável.
- Preparar o contexto (setting), garantindo segurança e conforto.
- Adotar estratégias práticas de segurança como testar a substância, avisar um amigo da experiência que vai acontecer, evitar conduzir e não misturar com álcool.
- Preparar o corpo através de práticas como o yoga, alongamentos e adotar uma alimentação adequada.
Durante a experiência, as principais estratégias incluem:
- Garantir apoio emocional, por parte de um amigo, facilitador ou utilizador experiente.
- Escolher música adequada, ajustando-a conforme o estado emocional.
- Adaptar o ambiente, mudando de espaço ou indo para o exterior, se necessário.
Na fase de integração, as estratégias mais referidas foram:
- Conversar com alguém de confiança sobre a experiência.
- Escrever num diário de integração, para refletir e consolidar aprendizagens.
Os investigadores notam ainda que as estratégias variam consoante a motivação para o uso, o contexto social e a dosagem.
Noutra publicação, o investigador Jules Evans, fundador do Challenging Psychedelic Experiences Project, reuniu 30 especialistas para discutir o que é necessário para, em sociedade, reduzirmos os potenciais riscos no uso de psicadélicos em contextos de vida real.
Entre as principais recomendações estão:
- Aprofundar a investigação sobre riscos e formas de os mitigar.
- Garantir apoio de qualidade a pessoas que enfrentem dificuldades após experiências psicadélicas.
- Comunicar de forma clara e equilibrada tanto os riscos como os benefícios destas substâncias.
No fundo, a promoção de boas práticas, incluindo a redução de riscos, não é apenas uma precaução, é parte integrante de uma cultura psicadélica mais consciente, segura e sustentável, que respeita tanto o potencial e a profundidade da experiência individual, como a saúde pública e o bem-estar coletivo.

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Outros artigos do SafeJourney sobre boas práticas:
– Before You Trip – Iniciativa de Educação Pública Sobre Psicadélicos
– Ketamina em Contextos de Uso Pessoal ou Recreativo: O Que Devemos Saber
– Psychedelic Safety Flags: Reduzir Riscos em Experiências Psicadélicas
– Cinco (ou mais) Razões Pelas Quais as Pessoas Podem Ter uma “Bad trip”… ou Evitá-las
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– Guia Prático Para a Exploração Segura de Cogumelos Mágicos
– Está Realmente Preparado/a Para Uma Experiência Psicadélica?
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– Como Podemos Preparar e Integrar uma Experiência Psicadélica?
– Ayahuasca – Guia para Organizadores e Participantes (ICEERS)
