Podcast (Áudio)

Terapias com Psicadélicos no Podcast da Ordem dos Psicólogos “Isto é Psicologia”

João da Fonseca, psicólogo e psicoterapeuta com formação especializada em terapia assistida por psicadélicos e atualmente a trabalhar na Liminal Minds, e Pedro Teixeira, professor universitário e investigador na área, da Faculdade de Motricidade Humana (Universidade de Lisboa), juntaram-se no 31º episódio do podcast “Isto é Psicologia” (chancelado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses) para falar de psicadélicos com Mésicles Helin Berenguel.

A conversa iniciou-se com Pedro Teixeira que esclareceu o que são os psicadélicos e as terapias assistidas por psicadélicos, sublinhando que as mesmas se distinguem de sessões de psicoterapia comuns por terem um processo preparatório, a administração da substância psicadélica e a presença de facilitadores durante a terapia, procedendo-se depois à integração da experiência. Quanto ao processo terapêutico usado, João da Fonseca esclareceu que se tratam de processos durante os quais se tenta criar uma experiência num estado modificado de consciência, de grande amplitude, diferente do estado em que os pacientes geralmente se encontram numa sessão regular de terapia. O experiente psicoterapeuta refere mesmo que “esta é uma terapia assistida por psicadélicos e não psicadélicos que são assistidos por terapia. São ferramentas que despertam capacidades da consciência humana que já lá estão implícitas”.

Pelo seu relevante potencial terêutico, este tipo de terapia é legal em ensaios clínicos estando o MDMA e a psilocibina na linha da frente em termos do processo de aprovação para utilização clínica. Os principais psicadélicos são os denominados psicadélicos clássicos (mescalina, psilocibina, DMT e LSD), assim como o MDMA e a ketamina. Esta última já é usada em terapia assistida por psicadélicos em Portugal (em hospitais públicos e clínicas privadas), em regime off label. Pedro Teixeira esclareceu que a terapia assistida por psicadélicos já apresenta resultados positivos na saúde mental e no tratamento das adições ao tabaco e álcool, e que pode no futuro vir a ser testada na mudança de hábitos instalados que são difíceis de mudar, como por exemplo a nível do comportamento alimentar. A título ilustrativo, referiu que Temos neste momento 190 ensaios clínicos para a depressão, mais de 50 para o tratamento da depressão resistente, 36 para o stress pós-traumático, 33 para dependências e outras na área da saúde física, como o tratamento da dor”.

Pedro Teixeira falou também sobre alguns dos estudos observacionais levados a cabo pela sua equipa, com avaliações antes e depois de experiências psicadélicas estruturadas e com intenções terapêuticas e/ou de desenvolvimento pessoal. O objetivo é tentar perceber se estas experiências podem ter um impacto positivo não só na saúde mental mas também na saúde comportamental, facilitando a adoção de estilos de vida mais saudáveis por virtude da plasticidade neuronal e flexibilidade psicológica induzidos pela experiência psicadélica. O investigador está também a coordenar um estudo sobre as perceções e atitudes dos profissionais de saúde mental sobre a psicoterapia assistida por psicadélicos, uma colaboração científica envolvendo a Faculdade de Motricidade Humana, a Johns Hopkins University, a sociedade SPACE, e integrado na medida de apoio à Investigação em Saúde Psicológica da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Caso seja profissional de saúde mental e queira participar, responder a este inquérito online

No que diz respeito aos preconceitos e estereótipos associados a estas substâncias, João da Fonseca lembrou que se perderam décadas de investigação científica devido aos constrangimentos políticos das décadas de 60 e 70 nos EUA, que está a ser recuperada e novamente posta em marcha há alguns anos. Sobre mitos acerca destas substâncias (como por exemplo o potencial de dependência), Pedro Teixeira encerra a sessão relembrando que, em estudos realizados sobre o potencial de risco para a saúde de várias substâncias, as psicadélicas estão sempre entre as menos perigosas. A psilocibina é mesmo a menos perigosa enquanto entre as primeiras estão sempre o tabaco e o álcool, ambas legais e de acesso livre para adultos.

“É quase como, se em adultos, pudéssemos ter acesso a um cérebro de criança que não está especificado, que não tem as marcas do trauma da vida, não tem os condicionamentos culturais, do que o que é certo e do que é errado e está numa relação de abertura imensa e imediata com ela própria e com o que está à volta dela.” (João da Fonseca)

Para além deste website, existem já vários canais de informação que apoiam no desconstruir de receios e mitos, e no acesso a informação científica credível e rigorosa, por exemplo, os websites da Associação SPACE (para profissionais de saúde mental) e da Kosmicare, na área da redução de riscos. O livro do Michael Pollan “Como mudar a sua mente”, disponível também em formato de  documentário de 4 episódios na Netflix, pode também ser um bom ponto de partida para se perceber melhor como abrir “as portas da perceção” no que diz respeito aos psicadélicos.

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